Com tudo isso e mais algumas alterações no percurso, achei que seria interessante voltar a competir na São Silvestre. Em 2008 completei a prova de 15km em 1h34min, minha pior média de velocidade em todas as provas que disputei. Vim para a edição de 2012 disposto a superar essa marca. E achei que não seria difícil, dados os tempos que vinha fazendo nos treinos. É claro que uma semana antes da prova fiz um treino com a mesma distância e completei em apenas 1h43min, mas uma vez que o calor de 38°C que experimentei naquela ocasião não deveria se repetir no dia da prova, achei que não teria muitos problemas.
No entanto as coisas não aconteceram da maneira como eu imaginei. Não sei ao certo onde foi que errei, mas o fato é que terminei a prova com um tempo ainda pior do que o que fizera há quatro anos atrás. Isso porque hoje já estou acostumado a distâncias maiores, sou mais experiente e sei dosar melhor as energias. Posso até apontar alguns pontos, como a noite de sono mal-dormida, a péssima posição de largada que obtive, o calor que se não era de 38°C pelo menos era mais forte do que há 4 anos atrás; ou pode ser que eu simplesmente não estivesse no meu melhor dia.
Combinei de encontrar um colega na catraca do metro Trianon-Masp para corrermos juntos, mas infelizmente desencontramos. Fui sozinho me posicionar para a largada. Encontrei fantasiados como Charlie Chaplin, cangaceiros, carnavalescos, dentre outros. Fui trocar uma ideia com um cara que segurava uma placa da cidade de Cerquilho-SP, pois lembro-me de ter visto esta placa em outras provas como a da Tribuna e de Revezamento do Pão-de-Açúcar. Descobri que eles eram um grupo de corredores daquela cidade e que participam de várias provas durante o ano. Sempre levam a placa para aparecer na tv e nas fotos, e contam com um grupo de apoio que recolhe as placas após a largada. Ele mesmo já havia me alertado para não me preocupar com o tempo naquela prova, pois a São Silvestre não é uma corrida para você fazer tempo, e sim para curtir.
Tenho certeza que consegui uma posição de largada muito pior do que aquela de 4 anos atrás. É bem possível, pois se naquele ano eu me posicionei para a largada com pouco mais de 1 hora de antecedência, dessa vez procurei meu lugar faltando pouco mais de 20 minutos. Resultado: ao soar a sirene, levei 5 minutos para conseguir dar o primeiro passo e 15 minutos para passar pelo pórtico de largada (contra 7 minutos da minha outra participação). E não só isso: peguei "congestionamento" durante quase todo o percurso. Gastei muita energia fazendo ultrapassagens, o que até me incomodou um pouco pois simplesmente não conseguia achar espaço para correr. Mas essas coisas são assim mesmo: são 25 mil corredores, cada um com seu ritmo, seu preparo e sua estratégia de corrida. Claro que uma melhor posição de largada me permitiria encontrar melhor meu espaço, mas infelizmente não foi assim e não há muito o que fazer também. A única coisa que me irritou de fato foi ver pessoas caminhando durante todo o percurso desde o primeiro quilômetro, o que certamente atrapalha a vida de qualquer um.
Com relação ao novo percurso, por um lado achei ruim, pois a descida da Consolação proporcionava um espetáculo inesquecível de ver aquele mar de gente correndo com camisetas das mais diversas cores (mas o mesmo pode ser observado na Brigadeiro Luiz Antonio, embora em menor intensidade). Também senti falta do Minhocão, trecho no qual as pessoas que moram nos prédios adjacentes lotavam as varandas e acenavam para os atletas, soltavam rojões e até jogavam água através das mangueiras de suas casas para refrescar os atletas. Um dos momentos mais bacanas da prova que infelizmente foi cortado.
Por outro lado, o novo percurso permitiu que outros trechos do centro de São Paulo fossem explorados. Ao invés da Consolação, seguimos pela Av. Dr. Arnaldo e descemos a Rua Major Natanael, que margeia o Cemitério do Araçá e desemboca na Praça Charles Müller, onde se encontra o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, vulgo Pacaembú. Nesse estádio encontra-se também o Museu do Futebol, que certamente vale uma visita para os mais fanáticos por futebol e também para os nem tanto. Depois seguimos pela Av. Pacaembú e contornamos o Memorial da América Latina em várias ruas estreitas. Em uma delas houve uma distribuição de água um tanto quanto caótica devido à enorme quantidade de pessoas querendo água e ao fato da passagem ser bem estreita. Depois seguimos por um viaduto, uma longa e desgastante subida na qual comecei a sentir também o calor do sol que já subia mais alto.
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Logo no começo da subida fiquei um pouco surpreso com a euforia que alguns corredores demonstraram ao iniciarmos esse trecho com gritos de guerra "Uh! Briga-dê-ro! Uh! Briga-dê-ro!". Surpreso e também contagiado. O cansaço era enorme e eu tinha medo de "quebrar" e começar a caminhar durante a subida. Mas felizmente me deixei levar pela animação dos demais corredores e também do público que compareceu em massa para dar seu incentivo. Resultado: não parei em nenhum momento! Posso ter levado cerca de 15 minutos para completar apenas 2km de subida, mas fiquei muito feliz de ter completado a prova correndo do primeiro ao último metro! Aliás, nos metros finais na Av. Paulista, fui capaz novamente de dar um sprint final e correr com todas as forças que ainda restavam, exatamente como há 4 anos atrás. Acho que o fato de sair de uma subida daquelas e voltar a correr no plano equivale a tirar um peso enorme das pernas. Você até se sente mais leve e é capaz de correr mais rápido.
Como mencionei, terminei em 1h36min. Se eu achava meu tempo de 2008 ruim, o de 2012 foi ainda pior. Mas no fim das contas, valeu a pena ter acordado cedo no último dia do ano? Valeu a pena ter que dividir espaço com tanta gente? Valeu a pena sofrer com o calor e as subidas? A resposta só poderia ser uma: COM CERTEZA! Correr é sem dúvida uma das melhores maneiras de você encerrar um ano!
Para 2013 fica mais uma vez o desafio de participar de uma maratona, promessa que fiz para os dois últimos anos e não fui capaz de cumprir. No final de abril tem a Maratona de São Paulo, para a qual já estou treinando. Será que agora vai? Só o tempo vai poder dizer.
Por enquanto deixo aqui a foto da medalha da São Silvestre, talvez uma das mais bonitas de minha coleção.