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Na véspera da corrida fui com a família para São Paulo e ficamos hospedados na casa do meu cunhado. Tudo certo com retirada do kit em uma loja especializada em corridas (Running Land, próxima ao Parque do Ibirapuera). Mandei fotos do kit no grupo de corrida e um amigo perguntou se eu iria tentar um Sub-2h, pois até estava treinado para tal. Respondi que a meta era apenas terminar mesmo, mas que se as condições permitissem ia tentar sim. Fiz uma preparação pré-prova bastante adequada, com bastante hidratação, sem exageros na alimentação e indo dormir cedo (largada às 06:00 da manhã). Ou pelo menos era o que eu achava. Para o jantar acabei comprando um lanche na padaria mais próxima, e que acabou se mostrando uma escolha ruim. Não sei exatamente devido a qual ingrediente, talvez algum embutido (lombo, eu acho) não fiz a digestão muito bem. Acordei de madrugada, lá pela 1:00 precisando ir ao banheiro. Achei até que ia vomitar, mas não consegui. Pensei até em desistir da corrida, e voltei a dormir. Meu filho acordou às 04:15 para mamar (meu despertador estava para 04:30), de modo que nessa hora levantei. Nessa hora meu intestino funcionou e eu me sentia melhor. Como já estava acordado, decidi me trocar, tomar um café e me dirigir pra largada.
Cheguei no Pacaembú com cerca de 40 minutos de antecedência. O suficiente para deixar uma muda de roupas no guarda-volumes e conhecer o espaço e as tendas ali na Praça Charles Miller. Procurei meu local na largada e me impressionei com a quantidade de pessoas participando da prova. Parece que era cerca de 6 mil contando todas as 3 distâncias (5km, 16km e 21km). Apesar da noite mal-dormida, eu me sentia muito melhor e apto para a corrida, mas veio aquele friozinho na barriga e aquela pergunta para mim mesmo sobre se eu terminaria a prova. Sub-2h então, do jeito que meu amigo sugeriu? Só em sonho. Logo veio a contagem regressiva e lá fui eu.
Além da largada ter sido muito cedo, o dia estava nublado e portanto fazia frio. O que pra mim é excelente, pois meu desempenho é muito melhor sob essas condições climáticas. Comecei como sempre tentando buscar meu espaço no meio da muvuca e tendo que fazer algumas ultrapassagens. É muito comum ver grupos de amigos correndo juntos, e que por vezes acabam criando um obstáculo. Decidi não forçar muito e poupar energia (afinal, era uma meia, não uma prova de 10k), mas ainda assim comecei virando os primeiros quilômetros abaixo de 6min/km. Passei pelo km5 com o relógio marcando 28m06s, sendo 5m57s na última parcial. Eu estava me sentindo bem então achei que seria melhor buscar manter esse ritmo mesmo. Nessa altura da prova já havia uma boa dispersão e eu me sentia perfeitamente confortável. Os primeiros postos de hidratação se mostraram tranquilos e logo cheguei ao Minhocão. Sem o mesmo apelo da São Silvestre, na qual as pessoas lotam as sacadas para ver a corrida e você tem a sensação de estar correndo em um estádio, mas ainda assim uma paisagem bastante diferente pois você corre na altura dos prédios. Muito bacana ver também as empenas coloridas com muita arte urbana sendo exposta. Uma delas dizia "Você me faz melhor". Achei uma frase muito legal, eleva o astral de quem passa por ali e a lê. Foi o meu caso. Logo pensei também na minha esposa e no meu filho, pois eles me fazem uma pessoa melhor. E claro, também na corrida. Esse vício saudável sem sombra de dúvidas me faz melhor também.Passei pelo km10 ainda no Minhocão, marcando 56m51s. Mas foi mais ou menos nesse ponto que percebi que a marcação da prova estava uns 200m atrasada com relação ao meu relógio. Ou seja, meu relógio acusava que eu completava o quilômetro cerca de 200m antes de eu efetivamente passar por uma das placas com a marcação oficial. A metade da prova, pelo meu relógio, passou com pouco menos de 1h de prova. Como não existia marcação oficial nesse ponto (seria o km10.5), então fiquei sem saber essa parcial pela marcação oficial. Seja como for, algo interessante aconteceu nesse trecho da corrida. Acabei ultrapassando uma moça correndo com o celular e gravando um vídeo contando ao vivo sobre como estava sendo sua corrida, e postando nas mídias sociais. Fiquei me perguntando se era alguma influencer ou coisa parecida. Possivelmente acabei aparecendo de coadjuvante em algum dos vídeos dela.
Veio então o trecho no Centro de São Paulo, com suas largas avenidas, prédios antigos, postes de luz antigos, além de cartões postais da cidade como o Edifício Copan e o Terraço Itália. Acho que me empolguei um pouco nesse trecho, talvez pela paisagem, de modo que virei o km14 com minha melhor parcial de 5m07s, marcando um total de 1h18m23s. Ou seja, eram dois terços da distância em menos de 1h20m. Daria para fazer abaixo de 2h mesmo até com certa folga. Mas pela marcação oficial ficaria um pouco no limite. Fato é que eu sentia um prazer imenso em estar participando daquela corrida, ali naquele lugar, e impondo aquele ritmo. Decidi que ia manter e tentar até apertar mais no final, se tivesse fôlego para tal.
Eu havia levado uma bananinha para repor energias e tinha me planejado para consumi-la no posto de água do km13. Entretanto, nesse ponto o posto foi de Gatorade. Tudo bem. Aproveitei o isotônico e deixei minhas calorias adicionais para o km16. Assim, teria a reta final da prova com um pouco mais de energia para tentar melhorar (ou pelo menos manter) o ritmo forte. Logo eu já pegava o caminho de volta rumo à Av. Pacaembu e começava a sentir o cansaço. A perna começava a ficar pesada e eu sentia que o ritmo já não era mais o mesmo. Passei pelo km18 com 1h40m15s pelo meu relógio. Pouco depois disso fiz a última curva e cheguei à Av. Pacaembú.
Esse final de corrida foi interessante. Último posto de água bastante farto para permitir o sprint final. E ao passar por um túnel subterrâneo me deparei com um verdadeiro exército de fotógrafos de corrida para pegar o pessoal durante a subida nos finalmentes da prova. O cansaço batia forte, as pernas já não respondiam mais do mesmo jeito. Eu tentava acelerar para o sprint final mas faltava energia. Completei 21km no meu relógio 1h57m21s. Mas ainda faltavam cerca 100m para completar a prova, afinal a distância da meia é de 21.097m. Ou melhor, faltavam ainda uns 300m dada a diferença das marcações. Fato é que pelo tempo oficial cruzei a linha de chegada com 1h59m09s! E com a distância de 21,35km no meu relógio. Simplesmente inacreditável para quem acordou com dúvidas sobre se ia participar ou não da prova.