Até mesmo por conta disso comecei a acompanhar a competição de triathlon durante a Olimpíada. Seria uma forma de ver como os atletas de elite desta modalidade competem. E principalmente entender uma coisa que sempre achei curioso e que é uma das chaves do triathlon: a transição! Ao começar a me informar um pouco sobre essa modalidade, descobri que a transição é considerada por alguns como o "quarto esporte" do triathlon. Existem treinos específicos para essa parte da prova. Ok, ainda não é o meu caso, mas é sempre bom se informar.
E para finalizar, como não poderia deixar de ser, a medalha do evento. A primeira que não é exatamente de uma corrida, o que de certa forma a torna mais especial.
Já há alguns anos em São José dos Campos/SP acontece uma prova que não é exatamente um triathlon. Pelo fato de envolver apenas a corrida e a bicicleta (não tem natação), trata-se portanto de um duathlon. E a ordem é um pouco diferente também, pois a prova inicia com um primeiro trecho de corrida, depois troca para a bicicleta, e finaliza com um segundo trecho de corrida. Eu não entendia exatamente o porquê dessa logística mas ao realizar a prova tudo ficou claro e logo mais explico tudo. Seja como for, pelo fato de ultimamente eu ter pedalado bastante com meu filho, seja para levá-lo para passear, seja para buscá-lo na escolinha, acabou que tenho pedalado muito mais do que a média desde que comprei uma bicicleta. Aliás, acredito que um dos motivos de eu não ter completado 1000km de corrida em 2024 (fiquei com 956km) foi justamente o de ter feito quase 300km de "treino" de bicicleta. Não raro acabei trocando um treino de corrida por um passeio com o pequeno, devido à logística da casa. Claro que esse tipo de passeio não equivale a um treino de verdade de bicicleta. Não vou com a mesma velocidade, não faço o mesmo esforço. Por outro lado, carrego um lastro a mais também. Acabou que às vésperas dessa prova decidi fazer um treino de verdade de bicicleta, até mesmo para me acostumar melhor com o exercício. Claramente, esse seria o meu real desafio nessa prova. Pela minha projeção, após esse treino, eu poderia tentar fazer o trecho de bike em pouco menos de 1 hora.
Outro desafio interessante no mundo do triathlon é a transição. No caso, tudo começa já na chegada ao evento. A primeira coisa que os atletas são orientados a fazer assim que chegam é o "bike check-in", que basicamente é entregar a bicicleta para a organização da prova e posicioná-la em algum ponto da zona de transição. Nas transmissões da Olimpíada eu sempre via tudo muito bem identificado, com as bandeiras dos países dos atletas e slots individuais para guardar as bicicletas. Claro que não esperava algo tão refinado deste jeito, mas confesso que imaginava algo um pouco mais organizado. As bicicletas simplesmente eram colocadas uma ao lado da outra em um cavalete coletivo e eram basicamente colocadas por ordem de chegada. O que para mim foi um problema, tentei fixar exatamente em qual dos 4 possíveis corredores e em qual altura dele se encontraria a minha bicicleta. Se estivesse organizado pelo número de identificação de cada atleta, as coisas seriam mais fáceis. A propósito, se nas corridas usamos número do peito, nessas provas o número deve ser também fixado no cano da bicicleta, no capacete e no cesto que fica na zona de transição para deixar os objetos que não serão necessários durante os trechos de corrida (como por exemplo o capacete, as luvas, e no meu caso, levei um óculos corta-vento também, até mesmo para me proteger de eventuais pedrinhas e insetos).
Depois de deixada a bicicleta, saí para a largada. Logo percebi que não havia tanta gente assim, não era uma aglomeração tão grande que nem em provas de corrida. O locutor começou a passar as instruções de como funcionariam as transições, ou seja, por onde os atletas deveriam entrar ao final do primeiro trecho de corrida, sair com a bicicleta, e depois chegar com a bicicleta e sair pelo segundo trecho de corrida. Eu honestamente não entendi a descrição dele, e parece que os demais atletas também não. Ainda perguntei se não era todo ano igual e responderam que não, que estão sempre mudando. No final, bastava seguir a máxima de "segue o fluxo".
E foi dada a largada! Como já imaginava, a dispersão foi rápida pelo fato de sermos em pouco mais de 600 atletas somando as categorias Sprint, Standard, Olímpico e Mountain Bike (a minha, distâncias equivalentes ao Standard). Interessante o fato de ser uma prova de apenas 5k mas eu ficar segurando o ritmo. Afinal, era apenas o primeiro trecho da competição. Ainda assim, o tempo fresco me permitiu virar sempre entre 5m15s e 5m30s por quilômetro. Um ritmo excelente, e sem forçar muito. Completei o primeiro trecho de corrida com 26m48s!
Veio então a transição, e com ela o desespero. Fui até onde eu havia memorizado que estava a minha bicicleta e não a encontrava! Acho que na pressa de sair logo o pessoal acaba sem querer empurrando as bikes para um lado e para o outro, e após algum tempo finalmente localizei a minha bicicleta e o meu cesto. Depois disso segui empurrando a bicicleta até a linha de monte. O momento foi um pouco desesperador pois a pessoa da minha frente estava empurrando sua Speedy muito devagar. Eu não quis forçar a passagem pois era estreita e ela logo me passaria com sua bike. Exercitei um pouco a paciência, afinal eu não estava ali para fazer tempo, apenas para curtir. Logo passei pela linha de monte e a diversão começou.
Meu maior receio com uma prova de bicicleta era aquela muvuca da corrida, de todo mundo se acotovelando. O que é muito comum principalmente na largada. Se em competições ciclísticas como a Volta da França às vezes a gente vê alguns acidentes, envolvendo apenas profissionais, imagine então com um bando de amadores. Mas o fato de ter um trecho de 5km de corrida antes da bike garante uma dispersão grande o suficiente para evitar esse tipo de situação. E achei o pessoal também bastante consciente, respeitando inclusive uma recomendação dada pela organização: atletas mais lentos (como eu) procurar ficar sempre à direita e realizar as ultrapassagens apenas pela esquerda. E assim eu fiz: me mantive sempre à direita e o povo de Speedy foi me ultrapassando pela esquerda, em alguns casos como se eu estivesse parado. Ok, cruzei com uma ou outra Mountain Bike no caminho também, mas éramos uma minoria.
No começo eu demorei para me encontrar com relação às marchas da bicicleta. E o fato de o percurso não ser plano também trouxe essa dificuldade a mais. Mas eram 4 voltas em um percurso de 5km, de tal modo que já na segunda volta eu estava habituado com as marchas. Uma curiosidade é que nas subidas, nas quais o mais importante é a força na perna, não era raro que eu conseguisse ultrapassar algumas Speedys. Mas claro que nas descidas eles me passavam de volta. Outro ponto curioso foi a hidratação. Devido à velocidade mais alta, por mais de uma ocasião acabei acidentalmente derrubando o copo ao invés de conseguir agarrá-lo. Felizmente fazia frio então isso não foi exatamente um problema. Eu infelizmente acabei esquecendo em casa minha garrafa de água para acoplar na bike, o que era permitido pela organização dessa prova. Já na última volta percebi que a pista estava mais livre. Pudera, a maioria dos atletas de Speedy já haviam finalizado esse trecho. Mas ter a pista livre nem fez tanta diferença assim. Eu já estava sim um pouco cansado, e finalizei o trecho de bicicleta em 55m53s. Abaixo de uma hora!
Veio então nova transição. E de novo aquela bagunça. Não encontrava meu cesto para guardar o capacete. Quando encontrei o cesto com meu número, havia outro capacete lá dentro, com outro número. Removi o capacete do outro atleta que havia se confundido, guardei meus pertences e segui para a corrida. Mas qual caminho eu deveria seguir? Nessa altura simplesmente mais "fluxo" para ser seguido. Perguntei para o pessoal da organização e eles me indicaram. Sequer haviam placas indicando! Realmente pecaram nesse ponto.
Como era um trecho curto, de apenas 2.5km, decidi que era o caso de soltar todo o gás que eu ainda tinha. Acabei conseguindo ultrapassar uma meia dúzia de atletas durante esse trecho. Vi a linha de chegada e acelerei o máximo que pude, e no final vibrei para sair bem na foto! Fiz o segundo trecho em 13m42s, com um ritmo bem semelhante ao primeiro trecho de corrida. Fiquei feliz com isso: mostrou que consegui dosar bem a energia durante todo o trajeto.
Seguem abaixo as parciais de cada quilômetro dos trechos de corrida e de bike, na ordem realizada, bem como o certificado oficial da prova. O tempo total inclui o tempo que perdi nas transições, que foi cerca de uns 7 minutos ao todo.