sábado, 2 de agosto de 2025

Vai na fé: Corrida da Cidade 2025

A Igreja da Cidade de São José dos Campos é uma igreja evangélica localizada próximo à Via Dutra e também à recente Via Cambuí, uma via de trânsito rápido conectando a Av. Juscelino Kubitschek ao bairro do Putim, inaugurada em 2024. Já há alguns anos eles organizam uma prova de corrida de rua de 5k e 10k em suas imediações. Desde a inauguração da Via Cambuí, a prova passou a organizar também uma versão de 15k. E o percurso não poderia deixar de ser outro senão a própria Via Cambuí. Como já mencionei algumas vezes, não gosto de participar de muitas provas que repetem sempre o mesmo percurso, o que me fez olhar para esta nova prova com um certo interesse. Além de ser um percurso que nunca corri, também é uma região da cidade que poucas vezes passei. Soma-se a isso o fato de que a prova seria realizada em um feriado de quarta-feira, não deixando de ser portanto uma experiência diferente por mais esse motivo também.

Sem nunca ter ido ao local da Igreja da Cidade, fui finalmente conhecê-la na véspera da corrida para a retirada do kit. Muito me chamou a atenção a área enorme do terreno, com um estacionamento gigantesco e diversas construções. Não apenas a igreja em si, uma construção bem moderna e que por dentro lembra até um centro de convenções, mas também uma escola que pertence a igreja e um grande espaço de vivência, com quadras esportivas e quiosques. Mesmo sem fazer parte da comunidade, fui muito bem recebido pelas pessoas que me atenderam, sendo muito solícitos e cordiais ao passar as informações sobre os detalhes para o dia seguinte.

O pórtico de largada foi posicionado na parte externa, em uma rua de terra. Achei estranho uma rua de terra perante toda a modernidade ali. Pelo regulamento, a prova de 15k largaria primeiro, depois de 5 minutos as de 10k e 5k juntas. Mas o que se viu na hora foi todo mundo largando junto e misturado. Por um lado achei ruim pois poderia gerar aquela muvuca danada que destesto nas largadas. Mas por outro, somando as 3 distâncias, eram apenas 1000 participantes. Não foi o suficiente para causar qualquer tumulto, até mesmo porque me posicionei bem à frente para a largada. Consegui imprimir meu ritmo desde o começo.

Por ser uma prova de 15k, mesma distância da São Silvestre, logo veio aquela comparação. Será que consigo fazer um tempo melhor, ou seja, abaixo de 1h27min? Eu não me sentia tão bem treinado assim, mas por outro lado fazia bastante frio no dia. Tudo ia depender também da altimetria. A da São Silvestre é bem desafiadora, e a desse percurso também parecia ser. Seja como for, comecei com um ritmo forte, fechando o primeiro quilômetro em 5min15seg, já na Via Cambuí.

O início da prova se deu pela via de acesso à área da igreja, e depois ganhamos a Via Cambuí. Não demorou muito para iniciarmos uma descida, e pouco após a marca do km2 veio um posto de água e o retorno para quem faria a distância dos 5k. A via expressa corta uma área bem pouco habitada, com alguns condomínios mas muita vegetação nativa. Ela é orientada mais ou menos no sentido norte-sul, de tal modo que víamos o sol nascendo a leste. E a oeste, na maior parte do percurso, era um barranco. O frio da manhã, o nascer do sol, a vegetação nativa, a via asfaltada bastante lisa e regular, tudo aquilo fazia com que a experiência da corrida fosse realmente bastante prazerosa. Mesmo com a subida que se tomou conta dos km4 e 5 da prova. Ainda assim, consegui virar abaixo de 6min/km, mantendo portanto um ritmo bom. Outro posto de água perto do km5, marcando também o retorno para quem faria a distância de 10k. E mesmo no frio, a água é sempre um alívio bem-vindo! E desta forma segui em frente para a continuação da prova, já fazendo contas se conseguiria manter o ritmo para fazer abaixo do tempo da São Silvestre. Aparentemente seria possível, mas claro que tudo iria depender da altimetria e das minhas energias no restante da prova.


Mais ou menos no km6 vi um posto de distribuição de isotônico. Interessante que a organização reservou este posto de hidratação apenas para quem faria a distância mais longa. E por ser no meio da pista, pode ser acessado duas vezes, afinal mais ou menos no km8 eu passei novamente por ali. Esses postos me deram um ânimo e mesmo nos trechos de subida eu estava conseguindo manter o ritmo abaixo de 6min/km. Passei pela marca dos 10k com 55min33seg. Ou seja, teria plenas condições de fazer abaixo do tempo da São Silvestre!


No posto de distribuição de água perto do km12, que era exatamente o retorno da prova de 5k, a água já havia acabado. Uma pena que não conseguiram prever adequadamente, mas felizmente eu ainda tinha um copo que estava carregando do posto de hidratação anterior e pude me manter bem hidratado nesse final. E nesse ponto as subidas já haviam terminado. Eu estava me sentindo muito bem e decidi apertar o ritmo no final. Entrei pela área da igreja e comecei a contorná-la para o último quilômetro. O que apenas comprova como a área da igreja era mesmo enorme! Comecei a fazer graça para os fotógrafos da prova, erguendo o punho, gritando, o que também os animou um pouco.


Dado o sprint final da prova insano, finalizei com 1h22min52seg, uma média de 5min30seg por quilômetro! Muito melhor do que as minhas projeções mais otimistas. Foi meu melhor tempo nessa distância! Ok, não corri muitas provas de 15k. Além das 3 edições da São Silvestre, participei também da Sargento Gonzaguinha em 2018, e meu tempo na ocasião havia sido de 1h23min58seg. Tudo isso é claro me deixou muito feliz e animado para continuar perseguindo desafios cada vez maiores. Será que a constância dos treinos e participações em provas está me preparando para voltar a encarar uma maratona? Quem sabe. Mas antes, preciso correr novamente uma meia!


Já que tanto falei aqui em comparar essa prova com a São Silvestre, fica então um comparativo da altimetria das duas provas, conforme as figuras abaixo extraídas do GPS do meu relógio. Na parte de cima, a desta Corrida da Cidade, e logo abaixo, da São Silvestre. O ganho de elevação registrado nas duas provas foi muito parecido (333m na Corrida da Cidade versus 327m na São Silvestre). A diferença principal é que na São Silvestre é basicamente uma descida só até o km5, daí vai subindo gradualmente até o km13, quando começa a subida insana da Brigadeiro. No caso dessa Corrida da Cidade foram 3 subidas fortes distribuídas ao longo do percurso. 





Para finalizar, como sempre, seguem as minhas parciais e a foto da medalha. Com destaque para as 3 cruzes que simbolizam esta igreja.








terça-feira, 22 de julho de 2025

Um desafio diferente: Duathlon do Vale 2025

Não é de hoje que passa pela minha cabeça a ideia de participar de um triathlon. Lendo o livro do Haruki Murakami, sobre o qual já escrevi nesse post antigo, parece até um caminho natural para os corredores de longa distância. Exercícios como bicicleta e natação são ótimos para treinos cardiorrespiratórios, essenciais para a corrida, com o benefício de não causar impacto nos joelhos. Longe de mim querer participar de um Ironman (só para ter uma ideia, o trecho de corrida desta competição equivale a uma maratona), mas a ideia de participar de uma prova multi-esportes me pareceu atraente. E as distâncias do triathlon olímpico parecem um desafio realizável (pelo menos para mim): 1,5km de natação, 40km de bicicleta e 10km de corrida. 

Até mesmo por conta disso comecei a acompanhar a competição de triathlon durante a Olimpíada. Seria uma forma de ver como os atletas de elite desta modalidade competem. E principalmente entender uma coisa que sempre achei curioso e que é uma das chaves do triathlon: a transição! Ao começar a me informar um pouco sobre essa modalidade, descobri que a transição é considerada por alguns como o "quarto esporte" do triathlon. Existem treinos específicos para essa parte da prova. Ok, ainda não é o meu caso, mas é sempre bom se informar.

Já há alguns anos em São José dos Campos/SP acontece uma prova que não é exatamente um triathlon. Pelo fato de envolver apenas a corrida e a bicicleta (não tem natação), trata-se portanto de um duathlon. E a ordem é um pouco diferente também, pois a prova inicia com um primeiro trecho de corrida, depois troca para a bicicleta, e finaliza com um segundo trecho de corrida. Eu não entendia exatamente o porquê dessa logística mas ao realizar a prova tudo ficou claro e logo mais explico tudo. Seja como for, pelo fato de ultimamente eu ter pedalado bastante com meu filho, seja para levá-lo para passear, seja para buscá-lo na escolinha, acabou que tenho pedalado muito mais do que a média desde que comprei uma bicicleta. Aliás, acredito que um dos motivos de eu não ter completado 1000km de corrida em 2024 (fiquei com 956km) foi justamente o de ter feito quase 300km de "treino" de bicicleta. Não raro acabei trocando um treino de corrida por um passeio com o pequeno, devido à logística da casa. Claro que esse tipo de passeio não equivale a um treino de verdade de bicicleta. Não vou com a mesma velocidade, não faço o mesmo esforço. Por outro lado, carrego um lastro a mais também. Acabou que às vésperas dessa prova decidi fazer um treino de verdade de bicicleta, até mesmo para me acostumar melhor com o exercício. Claramente, esse seria o meu real desafio nessa prova. Pela minha projeção, após esse treino, eu poderia tentar fazer o trecho de bike em pouco menos de 1 hora.

Outro desafio interessante no mundo do triathlon é a transição. No caso, tudo começa já na chegada ao evento. A primeira coisa que os atletas são orientados a fazer assim que chegam é o "bike check-in", que basicamente é entregar a bicicleta para a organização da prova e posicioná-la em algum ponto da zona de transição. Nas transmissões da Olimpíada eu sempre via tudo muito bem identificado, com as bandeiras dos países dos atletas e slots individuais para guardar as bicicletas. Claro que não esperava algo tão refinado deste jeito, mas confesso que imaginava algo um pouco mais organizado. As bicicletas simplesmente eram colocadas uma ao lado da outra em um cavalete coletivo e eram basicamente colocadas por ordem de chegada. O que para mim foi um problema, tentei fixar exatamente em qual dos 4 possíveis corredores e em qual altura dele se encontraria a minha bicicleta. Se estivesse organizado pelo número de identificação de cada atleta, as coisas seriam mais fáceis. A propósito, se nas corridas usamos número do peito, nessas provas o número deve ser também fixado no cano da bicicleta, no capacete e no cesto que fica na zona de transição para deixar os objetos que não serão necessários durante os trechos de corrida (como por exemplo o capacete, as luvas, e no meu caso, levei um óculos corta-vento também, até mesmo para me proteger de eventuais pedrinhas e insetos). 


Depois de deixada a bicicleta, saí para a largada. Logo percebi que não havia tanta gente assim, não era uma aglomeração tão grande que nem em provas de corrida. O locutor começou a passar as instruções de como funcionariam as transições, ou seja, por onde os atletas deveriam entrar ao final do primeiro trecho de corrida, sair com a bicicleta, e depois chegar com a bicicleta e sair pelo segundo trecho de corrida. Eu honestamente não entendi a descrição dele, e parece que os demais atletas também não. Ainda perguntei se não era todo ano igual e responderam que não, que estão sempre mudando. No final, bastava seguir a máxima de "segue o fluxo".

E foi dada a largada! Como já imaginava, a dispersão foi rápida pelo fato de sermos em pouco mais de 600 atletas somando as categorias Sprint, Standard, Olímpico e Mountain Bike (a minha, distâncias equivalentes ao Standard). Interessante o fato de ser uma prova de apenas 5k mas eu ficar segurando o ritmo. Afinal, era apenas o primeiro trecho da competição. Ainda assim, o tempo fresco me permitiu virar sempre entre 5m15s e 5m30s por quilômetro. Um ritmo excelente, e sem forçar muito. Completei o primeiro trecho de corrida com 26m48s!

Veio então a transição, e com ela o desespero. Fui até onde eu havia memorizado que estava a minha bicicleta e não a encontrava! Acho que na pressa de sair logo o pessoal acaba sem querer empurrando as bikes para um lado e para o outro, e após algum tempo finalmente localizei a minha bicicleta e o meu cesto. Depois disso segui empurrando a bicicleta até a linha de monte. O momento foi um pouco desesperador pois a pessoa da minha frente estava empurrando sua Speedy muito devagar. Eu não quis forçar a passagem pois era estreita e ela logo me passaria com sua bike. Exercitei um pouco a paciência, afinal eu não estava ali para fazer tempo, apenas para curtir. Logo passei pela linha de monte e a diversão começou.


Meu maior receio com uma prova de bicicleta era aquela muvuca da corrida, de todo mundo se acotovelando. O que é muito comum principalmente na largada. Se em competições ciclísticas como a Volta da França às vezes a gente vê alguns acidentes, envolvendo apenas profissionais, imagine então com um bando de amadores. Mas o fato de ter um trecho de 5km de corrida antes da bike garante uma dispersão grande o suficiente para evitar esse tipo de situação. E achei o pessoal também bastante consciente, respeitando inclusive uma recomendação dada pela organização: atletas mais lentos (como eu) procurar ficar sempre à direita e realizar as ultrapassagens apenas pela esquerda. E assim eu fiz: me mantive sempre à direita e o povo de Speedy foi me ultrapassando pela esquerda, em alguns casos como se eu estivesse parado. Ok, cruzei com uma ou outra Mountain Bike no caminho também, mas éramos uma minoria.

No começo eu demorei para me encontrar com relação às marchas da bicicleta. E o fato de o percurso não ser plano também trouxe essa dificuldade a mais. Mas eram 4 voltas em um percurso de 5km, de tal modo que já na segunda volta eu estava habituado com as marchas. Uma curiosidade é que nas subidas, nas quais o mais importante é a força na perna, não era raro que eu conseguisse ultrapassar algumas Speedys. Mas claro que nas descidas eles me passavam de volta. Outro ponto curioso foi a hidratação. Devido à velocidade mais alta, por mais de uma ocasião acabei acidentalmente derrubando o copo ao invés de conseguir agarrá-lo. Felizmente fazia frio então isso não foi exatamente um problema. Eu infelizmente acabei esquecendo em casa minha garrafa de água para acoplar na bike, o que era permitido pela organização dessa prova. Já na última volta percebi que a pista estava mais livre. Pudera, a maioria dos atletas de Speedy já haviam finalizado esse trecho. Mas ter a pista livre nem fez tanta diferença assim. Eu já estava sim um pouco cansado, e finalizei o trecho de bicicleta em 55m53s. Abaixo de uma hora!

Veio então nova transição. E de novo aquela bagunça. Não encontrava meu cesto para guardar o capacete. Quando encontrei o cesto com meu número, havia outro capacete lá dentro, com outro número. Removi o capacete do outro atleta que havia se confundido, guardei meus pertences e segui para a corrida. Mas qual caminho eu deveria seguir? Nessa altura simplesmente mais "fluxo" para ser seguido. Perguntei para o pessoal da organização e eles me indicaram. Sequer haviam placas indicando! Realmente pecaram nesse ponto.


Como era um trecho curto, de apenas 2.5km, decidi que era o caso de soltar todo o gás que eu ainda tinha. Acabei conseguindo ultrapassar uma meia dúzia de atletas durante esse trecho. Vi a linha de chegada e acelerei o máximo que pude, e no final vibrei para sair bem na foto! Fiz o segundo trecho em 13m42s, com um ritmo bem semelhante ao primeiro trecho de corrida. Fiquei feliz com isso: mostrou que consegui dosar bem a energia durante todo o trajeto.

Seguem abaixo as parciais de cada quilômetro dos trechos de corrida e de bike, na ordem realizada, bem como o certificado oficial da prova. O tempo total inclui o tempo que perdi nas transições, que foi cerca de uns 7 minutos ao todo. 





E para finalizar, como não poderia deixar de ser, a medalha do evento. A primeira que não é exatamente de uma corrida, o que de certa forma a torna mais especial.



segunda-feira, 30 de junho de 2025

Viajando e correndo: Riviera de São Lourenço

O ano era 2022. Embora o auge da pandemia já tivesse passado, ela ainda não havia terminado. Ainda estávamos em uma condição de manter o isolamento social sempre que possível. Cuidados com máscaras ainda eram necessários, sobretudo em ambientes fechados e sem circulação de ar. E eu seguia trabalhando na modalidade 100% remoto.

Eis que um belo dia me esposa me disse que iria passar alguns dias trabalhando em uma obra na belíssima praia da Riviera de São Lourenço, no litoral de São Paulo. E que estaria hospedada em uma casa de praia de uma amiga nossa. Oras, como para desempenhar meu trabalho eu só precisava de uma internet de boa qualidade, lá fui eu também!

E obviamente aproveitei para dar minhas corridinhas durante aquela semana. Na verdade foram apenas duas ocasiões. Chegamos na quarta-feira na Riviera. Fui correr na quinta-feira no final da tarde, logo após finalizar o expediente (foto acima). Apenas um trote leve, devem ter sido cerca de 8km apenas. 

E é claro, precisava também de um treino em uma manhã de sábado, no qual aproveitei para puxar uma distância um pouquinho maior (mas sem exageros, fiquei nos 12km mesmo). Registrei o momento da bela manhã de sol na foto abaixo. Curiosamente, 3 anos depois, mesmo com a situação da pandemia já tendo sido finalizada, nunca mais voltei para correr na Riviera. Provavelmente por pura falta de oportunidade. 

De todo modo, as lembranças desses dias permanecem.

quarta-feira, 5 de março de 2025

Uma promessa de vida: São Silvestre 2024

Como escrevi no post de 2008, minha primeira participação na São Silvestre, correr esta prova era um sonho de criança. Naquela época, constatei que eu estava com 24 anos e era a 84a. edição da corrida. Logo, a aritmética básica indicava que a 100a. edição da São Silvestre ocorreria em 2024, quando então eu completaria 40 anos de idade. Prometi a mim mesmo, lá em 2008, que no que dependesse de mim, eu correria a 100a. edição da São Silvestre em 2024, aos meus 40 anos de idade. O tempo passou, muita coisa mudou na minha vida desde então. Terminei meu mestrado, fiz doutorado, cresci profissionalmente, casei, tive um filho. Criei este blog e fui registrando minhas corridas. Completei até 2 maratonas! Fiz minha parte! Mas quis o destino que a pandemia de COVID-19 cancelasse a prova em 2020, de tal modo que só me restou a opção de correr a 99a. edição da São Silvestre aos meus 40 anos de idade. 

E lá fui eu! Fiz a inscrição logo no primeiro dia lá pelos idos de Setembro. O site estava lotado, demorei um pouco para conseguir, mostrando que mesmo com 37500 vagas eu corria o risco de não conseguir me inscrever. Mas deu tudo certo. Tirei férias em outubro com a família e tive apenas 2 meses para treinar. Isso somado à loucura de todo final de ano de conseguir finalizar tudo. Considerando que eu corri uma meia maratona em abril, não teria com o que me preocupar em completar uma prova de 15k (apesar da altimetria bastante desafiadora da São Silvestre). Mas o ponto aqui era outro: em 2008 completei a prova em 1h34min. Ritmo portanto inferior a 10km/h. Em 2012 tentei melhorar o tempo, mas fui ainda pior: 1h36min. Desta vez eu não queria apenas terminar. Eu tinha sim uma meta de tempo, que era completar abaixo de 1h30min!

No dia 30 de Dezembro, véspera da corrida, fui para São Paulo para pegar meu kit. Ao contrário das outras edições que participei, nas quais a retirada se deu no Ginásio do Ibirapuera, desta vez foi na Bienal de São Paulo, no Parque do Ibirapuera. O kit em si foi bastante simples: apenas o número do peito com o chip, a camiseta e a sacola. Nada de brindes. Pelo contrário, estava ocorrendo uma exposição de corrida na Bienal, com vários stands de patrocinadores da prova vendendo seus produtos. Também era possível ver alguns painéis legais, mostrando o mapa com o percurso da corrida, ou a lista de inscritos na parede. Não demorei muito para encontrar meu nome lá! Embora eu nunca tenha corrido uma maratona "major", sei que esse tipo de painel é bastante comum nessas provas. Acredito que tenha servido de inspiração para a organização da São Silvestre.

Veio então a manhã do dia 31 de Dezembro. Devido às chuvas que ocorreram durante toda a semana anterior, o clima estava bastante ameno, com um belo sol e céu azul. Estava um dia lindo, perfeito para uma corrida. A largada seria apenas às 08:00 da manhã, mas cheguei na Av. Paulista um pouco depois das 06:00 para conseguir um bom lugar para a largada. Tomei essa decisão de chegar bem cedo devido à minha experiência com a prova de 2012, na qual cheguei quase que em cima da hora da largada e saí no meio de uma muvuca que praticamente me impossibilitou de conseguir encontrar um bom ritmo de prova. Naquela ocasião fiquei quase que o tempo todo me acotovelando para encontrar meu espaço. Bem ao contrário de 2008, quando a corrida ainda era de tarde e eu havia chegado com pouco mais de 1 hora de antecedência.

Outro ponto que foi um diferencial foi a largada em ondas. No ato da inscrição precisávamos identificar um pelotão de acordo com nossa estimativa de tempo. O primeiro pelotão era o azul, com pace abaixo de 5 min/km e largava junto com a elite. O meu era o segundo, o verde, com pace entre 5 e 6 min/km. E o último era o vermelho, com pace acima de 6 min/km. Até aí, eu já participei de inúmeras provas assim. O diferente dessa vez é que de fato as quadras da Paulista estavam completamente isoladas com grades de ferro. Os únicos acessos para a pista eram as ruas laterais, com os fiscais de prova deixando entrar apenas quem de fato estivesse no pelotão que largaria daquela quadra. Após a largada do pelotão azul, ficamos aguardando um pouco. Logo, os fiscais da prova formaram uma corrente humana dando os braços e começaram a nos escoltar pela quadra seguinte até o pórtico de largada. Fomos liberados para a largada cerca de 15 minutos após o primeiro pelotão. Por um lado eu estava impaciente, doido para correr. Mas por outro, como bem disse um sábio corredor ao meu lado, isso era bom pois garantiria a dispersão do primeiro pelotão.

E de fato, na hora que foi dada a largada para o meu pelotão, consegui começar a correr e impor meu ritmo desde o começo. Algo que eu não havia conseguido nem mesmo na edição de 2008. A foto ao lado foi tirada logo após o término da Paulista, no acesso para a Av. Doutor Arnaldo. Durante alguns anos morei ali perto e passar pelo local me fez lembrar de uma lanchonete que eu costumava frequentar por ali. Não posso esconder que fiquei feliz ao constatar que a lanchonete continuava ali, no mesmo lugar de sempre, conforme eu esperava. Logo pegamos a descida bastante íngreme (e portanto perigosa) da Av. Major Natanael e contornamos o Estádio do Pacaembú. Nesse momento duas coisas interessantes aconteceram. A primeira e mais óbvia é que a proximidade de um estádio de futebol fez com que muitos corredores começassem a exibir suas preferências futebolísticas gritando os nomes dos seus times do coração. E a segunda é que mais ou menos por ali alcançamos o km2 da prova, e logo alcancei alguns "retardatários": pessoas caminhando, muitas delas com fantasias. Comecei a reparar no número do peito e haviam largado no pelotão anterior! Logo comecei a temer por pegar "trânsito" à frente. Afinal, aquele povo definitivamente se inscreveu no pelotão errado. Podem ter se confundido na hora da inscrição, ou nem reparado nesse ponto, ou então se inscreveram junto com algum amigo que queria fazer tempo e decidiram por largarem juntos. Enfim, os motivos podem ser os mais variados, mas fato é que esse é o tipo de coisa que atrapalha a vida de quem se inscreveu no pelotão certo. Ainda assim, dos males o menor: de fato os 15 minutos entre os pelotões funcionou e garantiu uma boa dispersão, de modo que lá pelo km4 a minha sensação é que não havia mais problema algum com os "retardatários".

Cruzei o km5 com 26 minutos de prova. Um tempo excelente e uma bela margem para a minha pretensão de tempo. Mas dada a altimetria da prova, não dava para comemorar muito: estávamos no ponto mais baixo do percurso. Até então, havia sido apenas descida, e dali pra frente, apenas subida. Mesmo focado no tempo e praticamente entrando "em flow", eu pude aproveitar e me deliciar com as maravilhas dessa corrida. Muita gente acompanhando a prova em vários pontos do percurso e dando seu incentivo. Ou apenas interagindo com os corredores mesmo. E assim foi ao longo do centro de São Paulo, passando perto de vários cartões-postais da cidade ou importantes pontos de referência. Mais ou menos na altura do km7,5, metade da prova, passamos pela Praça Princesa Isabel com a imponente estátua do Duque de Caxias. Passamos próximos ao edifício Copan, contornamos a esquida da Av. Ipiranga com a Av. São João, em vários pontos pude avistar o prédio do Banespa. E tudo isso com vários toques musicais de pessoas se apresentando, desde taiko (tambores japoneses), passando por bandas de rock (cover dos Beatles) e até mesmo um grupo tocando e dançando frevo no meio da avenida. Acho que nessa hora acabei desviando de algum corredor e passei sem querer no meio do frevo.

A hora avançava e começava a esquentar. Ainda assim, o clima estava muito agradável. Passei no checkpoint do km10 com a marca de 55 minutos. Ou seriam 56 minutos e uns quebrados? Na verdade nesse ponto já estava bastante evidente novamente uma diferente entre a marcação do meu relógio e a oficial da prova, em cerca de 300 metros. Talvez tenha acontecido por eu ter ficado zigue-zagueando para desviar de outros corredores, em especial entre os km2 e 4 da prova.

Segui pelas ruas do centro de São Paulo. Contornei o largo do Paysandú, o belíssimo Teatro Municipal de São Paulo, quebrei para outras ruas e logo veio o último posto de água no início da subida da Av. Brigadeiro Luiz Antônio. Eu sempre tomo um pouco de água e jogo outro tanto no rosto para me refrescar. Um fotógrafo registrou esse momento e gostei tanto da foto que decidi por incluí-la aqui. E na sequência, a subida começou a apertar. Muito famosa por ser o ponto em que muitas corridas do pelotão de elite foram decididas, mas também por ser algo muito comentado entre os próprios corredores amadores. Lembro-me de nas outras edições ver muita gente caminhando, e que por ter conseguido me manter correndo, ainda que em ritmo mais leve, ter conseguido ultrapassar muita gente. Dessa vez não foi muito diferente. Segui tentando manter um bom ritmo na subida e ultrapassando muita gente. O público, que esteve presente em quase todo o percurso, mostrou-se mais numeroso na subida. Justamente por ser a parte mais desafiadora do percurso, é onde muita gente decide ir para dar aquela força para seu amigo que está participando da prova. Ou talvez existam aqueles que vão simplesmente para dar um apoio inespecífico aos corredores em geral. Seja como for, o apoio do público nessa subida com certeza dá uma marcha a mais para ajudar na subida com gritos de incentivo. Eu também me contagiei e logo após molhar a cabeça na saída do posto de água soltei um grito que veio do fundo da alma: "BORA!!!" Pois é, ao contrário dos outros anos que encarei a Brigadeiro, nos quais lembro-me de estar muito cansado e só conseguir olhar para baixo, desta vez eu estava mais inteiro, mantendo a cabeça erguida o tempo todo e consequentemente conseguindo contemplar na plenitude esse espetáculo da corrida de rua: diversos corredores sendo desafiados pela subida, e um número ainda maior de pessoas nas laterais da avenida incentivando os atletas! Talvez seja justamente essa simbiose entre público e atletas que torne a São Silvestre uma das corridas de rua mais especiais e emocionantes que existam!

Uma semana antes da São Silvestre eu havia feito um treino de subida na Ilha Porchat em São Vicente, que é uma subida ainda mais desafiadora que a Brigadeiro. Talvez isso tenha me ajudado a desempenhar bem. Meu relógio completou o último quilômetro na Brigadeiro com 6min26seg. Nada mal para uma subida! Isso aconteceu na última quadra da Brigadeiro, quando a subida praticamente termina e já é possível ver a esquina com a Paulista. Desnecessário dizer que ela estava absolutamente abarrotada de gente acompanhando a prova. Dobro a esquina e vejo o pórtico da chegada ao fundo. Confesso que na minha memória o trecho na Paulista não era tão longo assim. Olho no relógio e o tempo marcado era de 1h26min. Faço o sprint final com o que me restava de forças, ao mesmo tempo que curtia o fato de estar correndo na absolutamente charmosa Avenida Paulista. Cruzo a linha de chegada com o tempo final de 1h27min22seg!

Missão cumprida! São Silvestre 2024 completada aos meus 40 anos de idade! E de quebra ainda consegui fazer abaixo de 1h30min, batendo portanto minha meta auto-imposta de tempo! A sensação não poderia ser das melhores. E veio o pensamento de que a São Silvestre é tão legal que merece ser corrida todos os anos. Porém, parando para pensar melhor, talvez tenha sido muito especial este ano justamente por causa do hiato de 12 anos sem participar. Não sei ainda se irei correr novamente na histórica 100a. edição de 2025. Vou decidir isso no devido tempo, conforme for o andamento do meu ano. Mas uma coisa é certa: ainda pretendo volta a correr mais vezes a São Silvestre. Quem sabe para comemorar os meus 50 anos de idade?



Segue novamente o print com as parciais marcadas pelo meu relógio, com direito à marcação superior à distância da prova. E para finalizar, vou deixar não só a foto da medalha desta edição da São Silvestre, mas também, logo abaixo, a foto com as 3 medalhas que possuo: a da 84a. edição (2008), a da 88a. edição (2012) e a da 99a. edição (2024).