terça-feira, 8 de junho de 2010

Conhecendo o Brasil correndo: Volta da Pampulha 2009

Após as corridas de 10km e da São Silvestre, eu queria correr distâncias maiores. Também havia gostado muito do ano anterior, no qual passei meses me preparando para uma corrida coroando o fim de ano. Além disso, ao participar de corridas comecei a me informar também sobre provas ao redor do Brasil. Juntando tudo isso, e o fato de que ainda não conhecia Belo Horizonte, resolvi me inscrever para a Volta da Pampulha, realizada dia 6 de dezembro de 2009 ao redor da Lagoa da Pampulha na capital mineira.

Trata-se da maior corrida de rua do Estado de Minas Gerais. São quase 18 km de extensão. A prova é plana (afinal, é às margens de uma lagoa), e no ano passado foram 12.500 participantes. A organização é da Yescom, a mesma empresa que organiza a São Silvestre, a Maratona de São Paulo e as Meia Maratonas do Rio e de São Paulo. Por esse motivo, os brindes que vieram no kit eram muito parecidos com os da São Silvestre. Gostei bastante da camiseta: branca, e com o logotipo da corrida estampado bem grande no peito. Quanto às metas, a principal era terminar a corrida. De preferência com um tempo abaixo de 1h40m.

Chega então o sábado, véspera da corrida. Fui ao aeroporto e peguei um voo para Confins logo de manhã cedo. Animado com a corrida que se aproximava, decidi viajar com a camiseta da São Silvestre, para já ir entrando no clima. Quando estava na fila da esteira para pegar a babagem reparei que não era o único: muitos trajavam camisetas de outras provas, como Fila Night Run e Meia Maratona do Rio. A corrida do dia seguinte parecia ser o assunto do momento.

No sábado uma chuva fininha mas incessante castigou Belo Horizonte. Por esse motivo passei a maior parte do dia na casa de meu anfitrião, que na época era meu vizinho. Saí apenas para pegar o kit e jantar. Não foi possível fazer turismo. Mas ao pegar o kit no Iate Clube, que fica bem na Lagoa da Pampulha, deu pra ter uma sensação do tamanho do percurso que teria que enfrentar no dia seguinte.

O domingo amanheceu nublado, mas sem chuva. Perfeito para a corrida. Afinal, em dezembro seria realmente mais difícil correr sob o sol. E embora eu já tivesse realizado treinos na chuva, não havia feito nenhum na preparação para esta prova específica, de modo que estava torcendo para não chover. Seguindo a recomendação de um amigo corredor mais experiente, decidi tomar um Gatorade antes da largada, mesmo sem sol. Não foi uma atitude das mais sábias, pois senti o líquido "pesar" na barriga. Além disso, senti vontade de ir ao banheiro antes da largada. Peguei uma fila monstruosa, e só consegui me posicionar em meio à multidão quando faltavam apenas 10 minutos para começar. E faltando apenas 5 minutos, para causar vibração na galera, começou a cair um baita pé d'água.

Não teve jeito: a largada foi mesmo debaixo d'água. Na hora eu pensei: "ainda bem que já treinei alguma vez na chuva, assim sei que devo evitar pisar nas poças para não encharcar o tênis". Mas isso não adiantou muita coisa. Como já era de se esperar, a largada foi uma verdadeira bagunça. Ainda mais que todo mundo estava desviando da água. Pisei numa poça logo de cara, quando a pessoa que estava na minha frente desviou e eu não vi a poça a tempo. Mais pra frente um verdadeiro córrego cortava todas as pistas da corrida, de modo que era impossível não molhar o tênis. Resultado: antes de completar 1km de prova eu já estava com os dois tênis e as duas meias (além do resto da roupa e do corpo) completamente encharcados.

No km 2, ao passar na frente do Iate Clube onde retirei o kit, encontrei um amigo meu da faculdade que sabia que também iria correr, o "Mineiro". Mas pouco depois disso, outro fato inusitado: meu cadarço desamarrara. No começo eu achei melhor não fazer nada, mas após alguns segundos cheguei à conclusão que não daria pra aguentar mais 16km daquele jeito, e de alguma forma encontrei um lugar para parar e amarrar o tênis. Pouco depois disso, no km 4, por muito pouco não atropelei uma outra corredora ao desviar de uma poça.

Nesse ponto a chuva já tinha parado, e eu me sentia bem. Tão bem que acabei deixando o Mineiro para trás. A barriga ainda pesava e eu não sentia sede. Os pontos de água foram passando e eu peguei água apenas no km 9, mas apenas para ajudar a engolir o carboidrato em gel que havia levado para repor algumas energias. Cruzei o km 11 com apenas 59 minutos. Mas eu estava animado. Faltavam só 7 km e eu mantinha um ritmo muito forte. Comecei a sentir um pouco de cansaço, mas decidi continuar mantendo a mesma pegada.

Mas, somando-se o peso do Gatorade na barriga, ao tênis encharcado e ao ritmo acima do meu habitual, as coisas começaram a piorar. De repente minha barriga começou a doer, pouco após cruzar o km 13. Seguindo a velha filosofia do "quando correr, acelera", não diminuí o ritmo. Pânico! Comecei a sentir tontura, e baixei muito o ritmo. Tenho certeza que do contrário eu teria desmaiado. Era uma experiência nova para mim. Jamais em uma corrida de rua eu havia passado por uma situação desse tipo. Passei perto de uma barraquinha do Gatorade, mas o fiscal dali disse que eu não podia me pegar. Provavelmente era de alguma equipe de academia. Quando falei que estava mal, um outro corredor que passava disse para eu parar. Mas parar como? Eu estava a cerca de 5km da chegada, e sem dinheiro para pegar um taxi. Teria que voltar pelo menos andando. Não, viajar até Belo Horizonte para desistir de uma corrida era definitivamente inadmissível.

Um outro senhor que passava resolveu me ajudar, falando para eu acompanhá-lo e respirar fundo. Ele me encorajou, fazendo-me olhar para trás e ver quantas pessoas eu já havia ultrapassado. Naquele momento senti um arrepio, pois a cena realmente impressionava. Seja olhando pra frente ou pra trás, havia um volume de gente muito grande. Como a lagoa vai sempre fazendo curvas, era perfeitamente possível ter uma noção da quantidade de gente que estava ali presente. Fui trocando ideia com o senhor, embora infelizmente não lembre seu nome. Ele era mineiro mesmo, e disse que um dia ainda correria na São Silvestre. Pouco após o km 14 eu já me sentia recuperado. Por ser mais alto que o amigo que acabara de fazer, acabei deixando-o para trás mesmo sem perceber. Infelizmente não o encontrei depois e não pude agradecê-lo por ter me ajudado. Seja como for, fica aqui o registro.

Nessa hora já não olhava mais pro relógio: pouco importava o tempo, contanto que eu terminasse a prova. No km 16 atravesso uma ponte, e ao olhar para a esquerda outra cena impressionante: a pista do aeroporto da Pampulha estava ali, bem do meu lado. Logo vejo a linha de chegada. Acelero no último quilômetro e termino a prova com 1h40h05s. Impressionante, considerando-se tudo o que passei.

Apesar de ter feito o tempo desejado, as coisas não aconteceram exatamente como eu havia planejado. Ter tomado o Gatorade antes foi realmente um erro. Pelo menos ter tomado uma garrafinha inteira. Ter confiado demais em mim também. Mas foi bom para conhecer meus limites. Além disso, achei muito legal uma prova que era uma volta: mesmo com o tempo nublado, dava para ter uma noção razoável de onde eu me encontrava devido à posição do sol. Também gostei da sensação de correr "fora de casa", afinal era a primeira vez na vida que eu passava por aquela lagoa.

Mas o fato de ter tido um piripaque no meio da prova me fez ficar com vontade de correr novamente essa prova. Quem sabe ainda volto lá algum dia. Isso também foi determinante para que eu decidisse correr a Meia Maratona de São Paulo em março de 2010: para buscar terminar uma prova de longa distância de forma mais satisfatória. Mas isso fica para o próximo post.

Um comentário:

  1. Esqueci apenas de comentar que o símbolo da corrida é uma referência à igreja projetada pelo Oscar Niemeyer, que fica às margens da Lagoa da Pampulha e que se encontra ao fundo na foto que coloquei. A foto foi tirada do Iate Clube. Se não me engano, a igreja fica no km 6 da corrida.

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