quarta-feira, 18 de maio de 2011

Um dia de fúria: 10km da Tribuna 2011


A organização dos 10km Tribuna, agora em sua 26a. edição, contou com a parceria da Universidade Lusíada de Santos. Na prática a única mudança que pude perceber foi que a retirada do kit agora aconteceu no ginásio da Lusíada, e não mais no ginásio municipal do Rebouças como vinha ocorrendo todo ano.

Mas não foi só isso que mudou. Visando melhorar ainda mais a velocidade da prova, uma pequena alteração foi feita no percurso. Na saída do túnel, logo após completar o primeiro quilômetro de prova, os atletas agora pegaram a larga Av. Rangel Pestana para a seguir entrar diretamente no começo da Av. Ana Costa, evitando assim algumas ruas estreitas. Nesta avenida a prova agora atravessou o outro sentido, facilitando assim o acesso ao Hospital Ana Costa. Mudanças a meu ver bastante positivas.

E a prova realmente ficou mais rápida: neste ano Marílson Gomes dos Santos não só conquistou seu 6o. título, tornando-se assim o maior vencedor em absoluto da prova, como também estabeleceu um novo recorde de 27min59seg. Apenas a título de comparação, o recorde mundial dos 10.000 metros, disputado em estádio de atletismo (com piso mais apropriado e percurso com longas retas e curvas muito abertas), pertence ao etíope Kenenisa Bekele com a marca de 26min17seg.

Uma vez que a prova é muito rápida, muitas pessoas aproveitam para corrê-la para marcar tempo e atingir índices. Para se ter uma ideia, para largar no pelotão de elite de uma prova deve-se ter um certo tempo comprovado junto à federação de atletismo do local. E muita gente encara a prova da Tribuna como oportunidade de estabelecer esta marca. Mas como a prova cresceu e este ano atraiu 16 mil corredores, muitas eram as reclamações de que a largada era muito tumultuada e perdia-se muito tempo, não atingindo assim o índice. Logo, a organização também teve uma jogada de marketing interessante: este ano foi criado o Pelotão Premium, para atletas amadores que queriam largar lá na frente junto com os atletas de elite, pagando para isso um valor de inscrição consideravelmente maior (R$ 300,00 para ser mais preciso, contra R$ 55,00 do valor normal).

Foi nesse ponto que os erros meus e da organização começaram a se somar. Não percebi que o pelotão tinha esse nome "Premium". Quando fui fazer minha inscrição, deveria dizer se queria largar no primeiro ou no segundo pelotões amadores. Com medo que o primeiro fosse o tal do Pelotão Premium, inscrevi-me no segundo. Mas essa divisão dos pelotões seria o dos atletas que pretendiam fazer o tempo de prova abaixo de uma hora e acima de uma hora, exatamente como no ano passado. Mas desta vez não havia essa explicação no site. No ato da entrega dos kits que fiquei sabendo deste detalhe e perguntei se poderia largar no primeiro pelotão. Até porque o segundo pelotão largaria 10 minutos mais tarde. Muito embora eu não tivesse pretensões de fazer índices que nem os atletas do Pelotão Premium, sentia-me muito bem disposto (apesar do resfriado da semana anterior) e achava que poderia quebrar minha marca pessoal nos 10km, de 50min51seg estabelecida nessa mesma corrida em 2009. E me responderam que não haveria nenhum problema.

A diferenciação entre os pelotões dava-se pela cor de uma faixa no número do peito. O do primeiro pelotão era vermelho e do segundo, verde. Ao entrar no primeiro pelotão os organizadores me mandaram voltar, assim como faziam com todo mundo. Sem alternativa, fui largar lá atrás. Dada a largada do primeiro pelotão, os fiscais preocuparam-se mais em evitar que o pessoal do segundo pelotão pulasse a grade do que vigiar as entradas para o primeiro pelotão. Resultado: muita gente com inscrição para o segundo pelotão (e até mesmo gente sem número no peito) aproveitou esse momento para invadir a região e largar. E os fiscais não deram a mínima para isso! Mesmo com toda a indignação do pessoal do segundo pelotão.

Conclusão: após a largada consegui desgarrar logo da massa do segundo pelotão (claro que com muita gente correndo mais rápido do que eu). Por um momento até achei que ainda pudesse quebrar meu recorde pessoal. Mas logo no primeiro quilômetro de corrida comecei a ultrapassar caminhantes com inscrição do primeiro pelotão. E ao longo da prova isso foi se acentuando, até chegar ao cúmulo de no quilômetro 4 eu ter encontrado um grupo de pessoas desfilando com uma faixa e ocupando praticamente toda a passagem. Fiquei realmente injuriado com a organização patética do evento neste ano. Na segunda metade da prova fui fazendo diversas ultrapassagens, muitas vezes perdendo muito tempo. Muitas vezes encontrando grupos de pessoas ocupando praticamente toda a pista de corrida.

No fim das contas até que fiz um tempo razoável: 54min56seg. Isso considerando que na segunda metade da prova perdi realmente muito tempo tendo que fazer ultrapassagens. Mas devo reconhecer que forcei demais a barra no primeiro quilômetro, o qual completei em absurdos 4min15seg e que me fez diminuir o ritmo no resto do percurso. Seja como for, se essa tivesse sido uma corrida normal eu acho que não quebraria meu recorde pessoal de qualquer maneira. Mesmo que não tivesse perdido esse tempo e não tivesse tido o desgaste psicológico, devo reconhecer que há uma diferença enorme entre completar a prova em 50 minutos e 55 minutos.

Tudo isso foi uma grande lição para mim. Fiquei furioso com a organização da prova? Certamente! Fiquei chateado com não ter conseguido quebrar minha marca pessoal? Claro! Mas nada que justifique eu ter me estressado com a corrida. Mesmo que todos nós corredores tenhamos o desejo de melhorar nossas marcas pessoais, talvez nesse dia eu tenha me esquecido de que o fundamental na corrida e nas provas de rua é uma coisa só: a diversão que isso proporciona. A corrida não é, e nem pode ser, motivo de stress. Mas sim o alívio dele. Lição esta que espero nunca mais esquecer novamente.

Para finalizar, gostaria de fazer apenas um último comentário de caráter futebolístico. A corrida deu-se no dia final do Campeonato Paulista de Futebol, que ocorreu na Vila Belmiro entre Santos e Corinthians. Nem preciso dizer que por este motivo a corrida deste ano foi bastante especial, com dezenas (talvez centenas) de pessoas uniformizadas com camisas dos dois times (com mais santistas, mas ainda assim com muitos corinthianos) correndo ou acompanhando a corrida nas ruas. A profusão de bandeiras nas varandas, e mesmo servindo como capas para os corredores, também era enorme. E durante todo o percurso era possível ouvir gente gritando incentivos aos corredores uniformizados. O que achei mais engraçado disso tudo foi uma senhora que abriu um poster gigante do Neymar em cima de um cavalete na calçada da Avenida Afonso Pena, lá pelo km 6 da corrida.

No fim das contas, para completar a festa iniciada com a corrida da Tribuna, Arouca e Neymar se encarregaram em marcar os gols que deram ao Santos seu 19° título Paulista. Segue abaixo a foto da minha medalha de Campeão Paulista de 2011... quero dizer, da corrida da Tribuna de 2011.