sábado, 8 de agosto de 2020

Ao vivo é mais divertido: Maratona Olímpica de 2016


Comentei aqui em outro post sobre o dia que carreguei a tocha olímpica. Nele, comentei sobre o meu interesse sobre esportes, e mais especificamente sobre as Olimpíadas, desde que eu era pequeno. E sempre tive também um gosto muito grande por acompanhar eventos esportivos ao vivo, tais como jogos de futebol, basquete e automobilismo. Já havia até tido uma experiência olímpica antes: em 2006, durante período de intercâmbio na Itália, acompanhei um jogo de hóquei no gelo na Olimpíada de Inverno de Torino. E obviamente, com os Jogos de Verão sendo sediados no Rio de Janeiro, era uma grande oportunidade para acompanhar ao vivo diversas modalidades.

Curiosamente, eu nunca havia comparecido para acompanhar ao vivo nenhuma corrida de rua. Apenas para participar. E na Olimpíada acontece aquela que é talvez a mais importante das corridas: a maratona olímpica. Decidi então que iria assistir a essa corrida ao vivo. Até mesmo porque a largada e a chegada seriam na Marquês de Sapucaí, cartão-postal da cidade do Rio de Janeiro que eu nunca havia visitado.

Diz a lenda que na Antiguidade, logo após uma batalha travada na cidade de Maratona, localizada a cerca de 40km de Atenas, o mensageiro Fidípides foi enviado para Atenas para relatar a vitória dos atenienses. Ele correu sem parar o mais rápido que podia e ao chegar só teve forças para dizer "Vencemos!" antes de cair morto. Em homenagem a essa história, na primeira edição dos Jogos Olímpicos, em Atenas-1896, foi criada uma modalidade especial que seria a corrida entre as cidades de Maratona e Atenas. A essa corrida deu-se o nome de "maratona". Trata-se de uma das competições que esteve presente em todas as edições dos Jogos Olímpicos. A distância de 42,195km foi fixada nos Jogos de 1908, realizada em Londres, na qual os atletas fizeram um percurso entre o Castelo de Windsor e o Palácio de Buckingham, para que membros da família real pudessem assistir à largada e à chegada. 

Dentre os momentos mais marcantes (que eu conheço) da história da maratona olímpica, destaco três. O primeiro foi nos Jogos de Helsinque-1952, quando o finlandês Emile Zatopek foi o campeão das provas dos 5.000m, 10.000m e da maratona na mesma edição. O segundo foi a trajetória do etíope Abebe Bikila, que correu descalço e ganhou a maratona em Roma-1960. Preocupados com o impacto que isso poderia ter nas vendas de seus tênis, algumas marcas fizeram lobby para proibir que atletas corressem descalços em Tóquio-1964. Bikila se viu obrigado a correr calçado, e com a corrida já ganha, a poucos metros da linha de chegada, ele tirou os tênis e completou a prova descalço. Tornou-se assim o primeiro bi-campeão olímpico de maratona (feito apenas igualado pelo alemão Waldemar Cierpinski em Montreal-1976 e Moscou-1980). Finalmente, a edição de Los Angeles-1984 ficou marcada por ser a primeira a ter uma prova feminina da maratona. E nessa corrida aconteceu um dos episódios mais marcantes da história olímpica. A suíça Gabriela Andersen-Schiess entrou se arrastando no estádio olímpico, recusou-se a receber qualquer tipo de ajuda para não ser desclassificada, e cruzou a linha de chegada com o simples objetivo de completar a prova, visto que já estava fora da briga pelas medalhas. Esse é uma das fotos mais emblemáticas dos Jogos Olímpicos.
Bom, e quanto à Rio-2016? Como já deixei bem explícito, escolhi a maratona olímpica como uma das competições de maior interesse para acompanhar ao vivo. O primeiro lote de ingressos disponibilizado para o público foi no esquema de sorteio. Você entrava no site, selecionava os seus eventos de interesse e após o período de inscrição te informavam se você havia sido ou não sorteado. Acho que a maratona não atraiu tanto assim o interesse, de modo que foi a única competição que consegui ser sorteado nesse primeiro lote. Depois ainda consegui ingressos para outros eventos, mas fiquei feliz de ter conseguido esse logo na primeira oportunidade.
O dia amanheceu nublado e com leve chuva. Felizmente eu já saí equipado com capa de chuva para acompanhar o evento. E claro, para entrar no clima fui acompanhar o evento vestindo a camiseta do kit da corrida da Maratona de São Paulo e o boné do kit da Maratona do Rio. Cheguei cedo, a tempo de pegar a largada, a qual pude acompanhar da arquibancada. Não eram muitos atletas participando, e pra ser bem sincero, eu não conhecia nenhum dos principais favoritos. A única coisa marcante sobre a corrida que eu sabia é que ali seria a despedida do Marílson Gomes dos Santos, maratonista brasileiro que ganhou duas vezes a Maratona de Nova Iorque, nas edições de 2006 e 2008, e três vezes a São Silvestre, em 2003, 2005 e 2010. Chegou em quinto lugar na maratona olímpica de Londres-2012 e veio se despedir no Rio. Sem grandes chances de medalha, mas ainda assim contava com minha torcida e era um fato marcante para a corrida.
Após a largada ocorreu o desfile de uma escola de samba ali na Sapucaí para entreter o público presente. E era possível ao mesmo tempo acompanhar a corrida através dos telões. Achei uma corrida interessante, pois começou com o pelotão praticamente inteiro no mesmo ritmo, e aos poucos um ou outro atleta ia ficando pelo caminho e o pelotão ia diminuindo. O percurso era basicamente seguindo a orla de algumas praias da Zona Sul do Rio, com bastante gente acompanhando nas ruas. E já no final da prova, quando o percurso mudou para o centro antigo da cidade, passando pela região portuária que havia sido revitalizada, não havia mais pelotão: um corredor queniano havia se distanciado de todos os demais.
Queria ter a noção da velocidade de um maratonista campeão olímpico, e por isso fiz questão de acompanhar a chegada do queniano ali de perto. Fiz um vídeo amador da passagem dele ali onde eu me encontrava na Sapucaí. Achei impressionante como o queniano apresentava um semblante absolutamente tranquilo e focado em sua corrida. Não era o Marílson, não era um brasileiro, mas estava claro que tratava-se de um verdadeiro campeão olímpico. E isso por si só já me deixava muito feliz. E não era uma percepção apenas minha. O comentário que eu mais escutava das outras pessoas à minha volta acompanhando o evento era exatamente o mesmo: todo mundo impressionado com o campeão que se apresentava para todos nós.


Já em casa, de noite, acompanhei a cerimônia de encerramento da Olimpíada, na qual é feita a entrega das medalhas da maratona. E então fiquei sabendo o nome do queniano: Eliud Kipchoge. E hoje, olhando para trás, vejo que nascia ali um novo ídolo para mim. Pois desde então passei a acompanhar a trajetória desse queniano maratonista e de seus feitos notáveis. Mas sobre esses feitos, talvez eu escreva em uma próxima oportunidade. Por enquanto, encerro esse post com a foto de Eliud Kipchoge cruzando a linha de chegada na Sapucaí e o encerramento da minha experiência com a maratona olímpica.