terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Barefoot Runner: uma biografia sobre Abebe Bikila

Não lembro exatamente quando foi, mas ouvi falar pela primeira vez do corredor etíope Abebe Bikila na época de alguma Olimpíada, provavelmente Atlanta-1996 ou Sydney-2000. E nos meus primeiros anos como corredor um amigo me contou da existência desse livro que conta a história dele. Até achei que seria uma leitura interessante, mas como o livro nem havia sido lançado no Brasil na época (aliás, nunca foi até hoje), acabei deixando de lado.

Curiosamente em 2019 tirei férias no Sudeste Asiático e voei com a Ethiopian Airways, com escala em Addis Abeba, capital do país. No aeroporto, encontrei o livro à venda por 40 dólares! Resolvi esperar um pouco e ver quanto custaria comprando pela internet. Como esperado, apenas 7 dólares. Então, em uma viagem a trabalho para o exterior no final do mesmo ano, acabei comprando o livro. Mas entre tantas outras leituras, essa daí acabou ficando de lado por um tempo. Não sei dizer exatamente o motivo, mas no final do ano passado (2023) resolvi começar a leitura.

Trata-se na verdade de uma biografia romanceada. Um misto entre descrição de fatos e desenvolvimento dos personagens, com direito a diálogos e pensamentos. Talvez o autor tenha entendido que dessa forma a leitura ficaria mais agradável para o público. E de fato, na minha opinião a leitura ficou bastante prazerosa dessa forma.

Por se tratar de uma biografia, relatando portanto fatos reais, ocorridos há cerca de 60 anos atrás, então não vai ser spoiler comentar um pouco da história em si. Abebe nasceu em um vilarejo no interior da Etiópia, e quando adolescente saiu de casa para cumprir seu sonho: ser um soldado da guarda imperial e servir ao imperador Haile Selassie, assim como seu pai o fizera.

Cabe aqui um parênteses: o livro conta como a figura do imperador era importante na Etiópia. Diz-se que ele era descendente direto do Rei Salomão com a Rainha de Sabbá (que era etíope). Mais ainda, a Arca da Aliança (a mesma do filme do Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida), na qual as tábuas originais dos 10 mandamentos estão guardadas, supostamente está no subsolo da catedral de Addis Abeba. 

O Imperador Selassie decide então investir no esporte e aceitar o convite do Comitê Olímpico Internacional para participar dos Jogos Olímpicos de Melbourne em 1956. Então ele contrata Onni Niskanen, um ex-atleta sueco, para ser treinador dos soldados de sua guarda imperial, e ver se algum deles teria aptidão para o esporte. O foco, entretanto, eram os corredores de curtas e médias distâncias, e Abebe nunca se destacou nessas provas, por mais que se esforçasse. A delegação que viajou a Melbourne não trouxe nenhuma medalha, mas um quarto lugar obtido na prova dos 1500m mostrou que eles poderiam sim competir em alto nível.

Um belo dia Niskanen decide colocar seus corredores para fazer uma maratona, e eis que brilha finalmente Abebe Bikila. Dono de ótimos tempos e vencedor de uma prova local de maratona, ele parecia sim um jovem muito promissor. Mas os próximos Jogos Olímpicos seriam em Roma em 1960, e muita propaganda estava sendo feita em cima das provas de Ciclismo, esporte muito apreciado na Itália. O Imperador decide então mandar mais alguns ciclistas e pouco recurso restou para o Atletismo. Porém, na véspera da viagem, um dos atletas de curta distância se machuca jogando futebol, e então Abebe Bikila é chamado.

Muito interessante a forma como o livro relata a primeira viagem de avião, a primeira vez fora da Etiópia e o primeiro contato com estrangeiros, em especial com os americanos. Sim, o livro relata bastante as diferenças culturais entre os povos. Por exemplo, um único atleta americano comprou 6 pares de tênis, enquanto os etíopes, quando muito, conseguiam comprar 1 só. Aliás, Abebe não se adaptou com nenhum tênis, e como já estava mais do que acostumado a correr descalço, decidiu por assim o fazer (tendo todo o apoio de seu treinador Niskanen).

Ao longo das duas semanas da Olimpíada, Abebe treina em todo o percurso da maratona de modo a conhecer cada detalhe do relevo. Em um dado ponto do percurso, eles passariam pelo Obelisco de Axum, trazido para Roma cerca de 2000 anos antes quando da conquista de uma região da Etiópia. Aquele seria o ponto que Abebe deveria iniciar o sprint final para se distanciar dos oponentes. De acordo com Niskanen, seu principal adversário seria um marroquino chamado Rhadi, embora a imprensa estivesse apostando as fichas em atletas europeus e soviéticos. 

Na largada da maratona, Abebe já fica feliz só de estar ali com outros atletas do mundo inteiro, e poder conhecer pessoas das mais diversas nacionalidades. Ao dar a largada, Abebe faz como o recomenado por Niskanen, e começa a seguir o pelotão da frente, com o ritmo sendo ditado por dois atletas soviéticos. Porém, lá pelo km25, Rhadi aperta o ritmo para liderar a prova e é prontamente seguido por Abebe. Ocorre que Rhadi havia trocado seu número 26 pelo 185, que ele usara na prova dos 10.000m na qual obteve o ouro. Por esse motivo, Abebe achou que se tratava de outro atleta. algum egípcio talvez (Abebe conhecia alguns egípcios, mas nenhum marroquino). Pouco depois, Abebe achou que Rhadi deveria estar ainda mais à frente daquele suposto egípcio e apertou ainda mais o ritmo. Ao passar pelo Obelisco, iniciou o sprint final e arrancou para o então inédito ouro olímpico da Etiópia!

A piada que ficou é que a Itália precisou de um exército para invadir a Etiópia, mas bastou um soldado da guarda imperial para conquistar Roma! O fato de correr descalço também chamou muita a atenção. E mais do que isso: Abebe simplesmente pulverizou o recorde mundial da maratona, que era de então 2h23min, para 2h15min! Curiosamente os dois soviéticos que iniciaram a prova puxando o pelotão, estavam muito confiantes pois sabiam que poderiam correr abaixo do recorde mundial. Eles de fato conseguiram completar em 2h20min, mas chegaram em quarto e quinto lugares e terminaram sem medalha! Quanto a Rhadi, logo após o pódio ele cumprimentou Abebe e disse estar feliz por ter perdido para um africano, e não para um americano, europeu ou soviético.

Abebe retornou à Etiópia e foi condecorado pelo imperador, tendo se tornado uma celebridade e herói nacional. Ainda assim, continuou sendo soldado da guarda imperial, com o mesmo salário e mantendo o mesmo padrão de vida. Mas, ao contrário dos atletas americanos, que diziam esperar novos contratos e novos patrocinadores após o retorno, Abebe estava muito grato ao Imperador pela oportunidade que lhe fora concedida.

Poucos meses após a Olimpíada, alguns militares superiores de Abebe tentam dar um fracassado golpe de Estado contra o Imperador, e por isso são condenados à morte. Abebe, embora só estivesse cumprindo ordens superiores sem nem desconfiar qual era o objetivo da operação, também estava entre os condenados. Muitos foram os que suplicaram pela sua vida, dentre eles obviamente Niskanen. Não se sabe ao certo por qual motivo o Imperador poupou a vida de Abebe. Possivelmente porque ele se recusou a atirar em um membro na nobreza durante a operação. Mas fato é que, se antes Abebe já era grato ao Imperador pelas oportunidades que teve, desse dia em diante passou a ser grato por sua vida!

Abebe sofreu uma derrota importante na sua carreira quando foi convidado a participar da Maratona de Boston em 1963, a mais antiga do mundo. Talvez pelo clima muito frio e úmido, mas ele não conseguiu desenvolver um bom ritmo e ficou muito longe dos líderes. O que na verdade lhe deu mais ânimo para treinar para os Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964.

No Japão, Abebe já não tinha mais o elemento surpresa a seu favor. Pelo contrário, ele era o homem a ser batido agora. Mas na largada alguns atletas saíram em um ritmo muito forte logo no começo, e na marca dos 10km Abebe sequer estava próximo ao pelotão. Mas logo os líderes começaram a reduzir o ritmo, de modo que na marca dos 15km Abebe assumiu a liderança. E ao passar pelo km21, metade da corrida, já era líder absoluto. Abebe venceu a prova com 4 minutos de vantagem sobre o segundo colocado, além de estabelecer novo recorde olímpico com 2h12min. Mais do que isso, tornou-se o primeiro atleta a ganhar duas maratonas olímpicas! Esse só foi igualado mais tarde pelo alemão Waldemar Cierpinski (Montreal-1976 e Moscou-1980) e pelo etíope Eliud Kipchoge (Rio-2016 e Tóquio-2020).

Abebe ainda participou dos Jogos Olímpicos de 1968 na Cidade do México e liderou a maratona até o km15, quando foi forçado a abandonar a corrida com fortes dores na perna. Mas torceu muito e viu seu amigo e compatriota Mamo Wolde levar o ouro olímpico para a Etiópia mais uma vez! Com isso, Abebe decidiu parar de competir e virar um treinador assim como Niskanen, e começar a treinar novos corredores. Até mesmo porque, dali a 4 anos ele provavelmente já não conseguiria mais competir no mesmo nível devido à idade.

De forma bastante trágica, Abebe sofreu um acidente de carro enquanto dirigia pela capital Addis Abeba em 1969. Tratava-se do carro que o Imperador lhe havia presenteado pela medalha de ouro em Tóquio. Nesse acidente, ele fica paralítico e perde completamente o movimento das pernas, não podendo mais voltar a correr. Deve ser realmente muito triste para um corredor profissional não conseguir mais movimentar as pernas. E, embora a os Jogos Paraolímpicos já existissem (primeira edição foi em 1960), ainda era algo muito incipiente e provavelmente não era conhecido na Etiópia. Mesmo assim, Abebe ainda participa de algumas competições menores de arco e flecha para cadeirantes. Apesar de não conseguir se destacar, ele fica muito feliz de participar e diz finalmente compreender o lema olímpico, de que o importante não é vencer, mas competir. Sem dúvida uma leitura bastante motivadora para corredores amadores como eu, que gostam simplesmente de participar das corridas de rua, com a única ambição de ser sempre melhor do que apenas você mesmo.

Se você leu esse post até aqui e achou a história do Abebe Bikila interessante, deixo aqui dois vídeos do canal oficial do Comitê Olímpico Internacional no YouTube contando mais detalhes sobre as duas maratonas vencidas pelo etíope.



quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Desafio Farma Conde Arena

O ano de 2022 começou com uma nova onde de casos de COVID, mostrando que a pandemia ainda não havia terminado. Por esse motivo acabei não traçando nenhum objetivo de corrida no começo do ano. Preferi adotar a cautela e ver como seria o desenrolar dessa história.

Porém, logo no começo do ano passei por problemas pessoais que até me tiraram do foco das corridas. Não cheguei a parar com meus treinos, mas também não procurei novos desafios por um bom tempo.

Foi realmente quase no meio do ano, após ver vários amigos participando de uma Meia Maratona em São José dos Campos, que me animei e resolvi correr alguma prova. Dado o calendário local, uma boa candidata seria o Desafio Farma Conde Arena.

Situada na Via Oeste, uma via expressa de trânsito rápido em São José dos Campos, esse ginásio poli-esportivo foi uma daquelas obras de infra-estrutura que volta e meia era paralisada e depois retomada. Não acompanhei muito de perto o desenrolar dessa história, mas fato é que depois de muito tempo finalmente a arena foi concluída e havia sido recentemente inaugurada. A corrida de rua serviria, portanto, até mesmo para as pessoas poderem conhecer a arena e as imediações.

Desnecessário dizer que a entrega do chip foi na própria arena. A única coisa que lamento é que não foi dentro da quadra do poli-esportivo (como acontece por exemplo com a entrega dos kits da São Silvestre, que até a última vez que participei era dentro do Ginásio do Ibirapuera), mas sim no átrio de entrada do público. Dessa forma, não foi possível entrar na arena propriamente dita, mas apenas dar uma olhada de relance.

No dia da corrida, o amplo estacionamento da nova arena estava disponível para os participantes. E a própria concentração para a prova estava sendo realizada ali. 

Ao contrário da Meia de Santos, realizada em Novembro de 2021, com todos os cuidados necessários com a pandemia, a organização dessa prova não parecia minimamente preocupada com o vírus. Não foi necessário apresentar teste PCR ou comprovante de vacina para a retirada do kit, e muito menos para a entrada na região da largada. Eu me senti um extraterrestre por ter ido buscar meu kit de máscara, e por ficar com ela durante a concentração sempre muvucada da largada. Isso porque conheço muita gente que ficou doente no mês anterior. Um sinal de que, se a pandemia ainda não havia passado de fato, pelo menos a preocupação da maior parte das pessoas, essa sim já havia sido deixada para trás.

O percurso da corrida não foi muito diferente da prova da Track and Field do Shopping Colinas que participei em 2019. A diferença residia basicamente no ponto de largada e chegada (Arena ao invés do Shopping). Mas a bela manhã de sol de domingo no inverno e o ar até mesmo um pouco bucólico da Via Oeste foram uma bela inspiração para a participação nessa prova. Curiosamente encontrei um colega de trabalho na largada que eu nem sabia que corria. E pelo visto nem ele! Acabou me contando que era sua primeira corrida, que havia começado fazia pouco tempo por recomendação médica. Desejamos boa sorte um ao outro e logo foi dada a largada e estávamos correndo.

Eu não tinha nenhuma meta de tempo para a prova. Meu recorde pessoal dos 10k, obtido na prova da Tribuna em 2015 com 50min15seg, seria praticamente inalcançável dado meu nível de treino. Terminar a prova abaixo de 1h era praticamente obrigação para mim, pois sempre consegui fazer pelo menos esse tempo. Ficar abaixo dos 55min já parecia uma meta factível dada a realidade do momento.

Comecei a corrida um tanto quanto tranquilo, tentando apenas manter um bom ritmo e apreciar a paisagem da Via Oeste. Completei o primeiro quilômetro com 4min56seg, e logo constatei que tinha que reduzir um pouco o ritmo. Os dois quilômetros seguintes foram feitos com média de 5min08seg. Ainda muito forte, e eu percebia que não seria possíel manter o mesmo ritmo. O quarto quilômetro veio com 5min20seg, e a partir daí a coisa já parecia mais realista mesmo. Cruzei a marca dos 5km, metade do percurso, com 25min45seg. Na segunda metade da prova ainda mantive uma média de 5min20seg por quilômetro, tentando dar uma leve puxada no último quilômetro com o fôlego que ainda restava para cruzar a linha de chegada com 51min23seg! Nada mal!

Um outro detalhe é que foi apenas minha segunda corrida oficial com um relógio que marca as distâncias (antes disso usava o celular). E pela segunda vez a distância final marcada pelo relógio ficou abaixo da marcação oficial da corrida, foram apenas 9,78km. Uma pena, pois o app não reconhece que foi uma prova de 10km, logo não registra essa corrida como uma das melhores marcas de 10km. Acontece.



Como não poderia deixar de ser, finalizo o post com a foto de mais uma medalhinha de participação para a coleção. E que venham ainda muitas outras!


PS: Sim, a corrida foi em Agosto de 2022 e eu publiquei o post em Janeiro de 2024. Os desafios que a chegada da paternidade trouxe também impactaram a disponibilidade para treinar e participar de corridas. Retomar a escrita do post (que já estava bem avançado por sinal) durante o recesso de fim de ano foi uma forma de motivação para voltar a correr. Que venham portanto mais corridas!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

O fim da pandemia? Meia de Santos 2021

No final de 2019 comecei a planejar as provas para participar em 2020. Escolhi a Meia de Santos, programada para Abril de 2020, como o primeiro desafio do ano. Eis que veio a pandemia, as restrições de circulação e a impossibilidade de realizar uma corrida de rua. A prova foi então adiada para Novembro. Dada a continuidade da pandemia, a prova foi sucessivamente adiada para Abril de 2021 e finalmente para Novembro de 2021. Então, com a população adulta já vacinada (pelo menos quem não é retardado ao ponto de não querer se vacinar) e os índices da pandemia mais controlados, a organização da prova pôde finalmente realizar o evento.

Claro que vários protocolos de segurança foram estabelecidos. Por exemplo, a necessidade de apresentar comprovante de vacinação (ou exame PCR nas 24 horas anteriores) para retirada do kit da prova. Nesse ato foi entregue uma pulseira, e só era permitido entrar na arena de largada com a apresentação da pulseira. Além disso, era obrigatório o uso de máscara na região da arena. Após cruzar o pórtico de largada, era permitido retirar a máscara, porém era necessário recolocá-la ao cruzar o pórtico na chegada. A largada também se deu em ondas, organizadas de acordo com a estimativa de tempo que cada atleta forneceu no ato da inscrição. Tudo de modo a evitar aglomeração e facilitar a dispersão na hora da largada.


A região da arena ficou concentrada na praça onde se situa o Aquário Municipal, próximo ao Canal 6, na Ponta da Praia. Um local que me agrada, pois é bastante amplo e favorece boa dispersão de pessoas, além é claro de ser uma região bastante bonita. Enquanto aguardava a largada, o que mais pude escutar das pessoas em volta era o quão ansiosamente estavam esperando por aquela corrida. Praticamente 2 anos sem participar de nenhuma prova. E uma certa apreensão no ar também de por quanto tempo essa sensação de controle da pandemia devia perdurar.

A organização da prova me deu a pulseira do segundo pelotão para largada. De modo a evitar a aglomeração da largada, decidi entrar na arena apenas após a largada do primeiro pelotão, embora ela já estivesse aberta para todos. O intervalo de largada entre os pelotões era de 5 minutos. Ao ouvir a sirene para a largada do segundo pelotão, decidi entrar e fui avançando. Os fiscais da prova deixavam passar pelo cordão que dava acesso ao tapete de largada apenas os que tinham a pulseira na cor correspondente ao pelotão. O fato de ter deixado todo mundo acessar a arena não me pareceu muito legal, pois o pessoal que ia largar no terceiro pelotão acabou causando aglomeração perto do pórtico de largada. Logo após passar por esse pórtico eu já estava correndo pra valer, sem acotovelamento, sem briga por espaço. Nem tudo foi perfeito, mas o balanço geral é que o esquema de largada por ondas funcionou muito bem.

Como já mencionei, após a largada era permitido tirar a máscara. Realmente correr de máscara não é algo muito recomendável devido à limitação do fluxo de ar, mas foi uma medida necessária durante os períodos mais agudos da pandemia. Dada a demanda criada, foram até desenvolvidas máscaras mais apropriadas para a prática de esportes, como a que usei no dia da prova. De certa forma até me acostumei a correr de máscara, mas apenas em curtas distâncias. Para provas longas, como uma meia maratona, fica realmente mais difícil. Minha estratégia foi de tirar a máscara quando me senti confortável com a distância para as outras pessoas (o que aconteceu pouco após a largada), ou ao passar nos postos de água (pois teria contato mais próximo com as pessoas da organização), ou sempre que percebesse estar próximo de grupos de pessoas correndo juntas, e naturalmente após a chegada. Minha opinião é que essa abordagem funcionou muito bem também.

Justamente devido ao fato de correr com máscara, meus treinos durante a pandemia estavam limitados a curtas distâncias, como 5-8km. Apenas para realmente manter uma atividade física, visto que nenhuma prova estava no horizonte. Porém, quando recebi o e-mail da organização confirmando a realização da prova, decidi alterar os treinos para me preparar. Não que eu tivesse muito tempo disponível, eram apenas 2 meses, mas perfeitamente possível se o objetivo fosse apenas concluir a prova, sem meta de tempo.

Completei o primeiro quilômetro da prova em 5min30seg. Um ritmo mais forte do que eu estava acostumado nos meus treinos. E olha que meu treino mais longo foi de apenas 18km, não cheguei a fazer a distância da prova durante minha preparação. Tudo bem que o tempo estava bastante ameno (algo surpreendente para Santos em Novembro, mesmo largando às 7h00 da manhã), mas ainda assim achei melhor tentar reduzir o ritmo. Cruzei a marca dos 2km com 11min02seg, ou seja, o mesmo pace. Ok, precisava mesmo reduzir o ritmo para não ter problemas na continuidade da prova.

Virei no Canal 6, e logo veio o primeiro posto de água. A estratégia era a mesma de sempre: tomar apenas alguns goles para matar a sede e o restante do conteúdo do copo jogar na cabeça para refrescar. Mesmo com o tempo ameno, senti diferença. O ritmo logo reduziu um pouco, de modo que ao cruzar a marca dos 5km, já na região do porto, o relógio marcava 28min09seg. O cenário do porto não é dos mais bonitos para se correr, mas a via estava bem cuidada, limpa, os postos de água bem abastecidos, enfim, a organização estava realmente de parabéns.

Voltei ao Canal 6 e cruzei a marca dos 10km com 57min40seg. E o mais importante: estava me sentido bem e confortável com esse ritmo. Mas foi pouco depois desse ponto, na hora que cheguei ao final do Canal 6 e fiz a curva para entrar na avenida da praia, ao visualizar a orla de Santos ensolarada numa bela manhã de domingo, que veio aquela sensação maravilhosa de constatar que eu estava participando de uma corrida!

Que prazer realmente indescritível! Correr na avenida da praia de Santos, com sol, céu azul, até mesmo com um pouco de calor devido ao avançar do horário, participar de uma prova, tudo isso trazia uma deliciosa sensação de prazer e de vontade de curtir o momento que fica realmente difícil colocar em palavras.

Mas logo o calor realmente apertou, o cansaço começou a bater e o ritmo de prova começou a diminuir. Cruzei a marca dos 15km com 1h27min34seg. Fiz a curva em 180º próxima ao emissário submarino, já próximo à divisa com São Vicente, e a partir daí era só seguir reto até retornar ao Aquário para finalizar a corrida. Embora um pouco cansado, estava me sentindo muito bem, e com a plena convicção que iria até o fim da prova.

A essa altura do campeonato a dispersão já era tão grande que eu realmente parecia estar correndo sozinho. Era bem ocasional ultrapassar ou ser ultrapassado por alguém nessa reta final. E ao constatar que a corrida estava no fim, conseguir tirar aquelas últimas energias para tentar melhorar um pouco o ritmo e cruzei a linha de chegada com o tempo final de 2h00min37seg.

Por pouco não foi uma meia sub-2h! Um resultado excelente para quem mal estava treinado para essa distância. Não foi meu melhor tempo em meia (1h52min) mas também longe de ter sido o pior (2h15min). Tanto faz, o simples fato de voltar a participar de uma meia já me deixou muito feliz.



Para finalizar, como sempre, deixo aqui a foto da bela medalha dessa corrida. Tomara que em 2022 seja possível participar de mais corridas assim.



quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Corrida virtual, afinal é o que temos para hoje: TikTok Santander Track&Field Run Series

Desnecessário e até meio batido dizer que 2020 foi um ano atípico, diferente de tudo aquilo que já vivemos. Se em janeiro eu tinha planos de correr novamente uma maratona, colocando provas de meia no meu calendário para começar a preparação e botando como meta correr pelo menos 1.000km no ano, em março tive que me adequar a uma nova realidade. E em maio, com a obrigatoriedade do uso de máscaras ao sair de casa, acabei dando um tempo com a corrida.

Conversando com outros amigos corredores, e olhando pela janela de casa, vi que muita gente estava saindo para correr de máscara. Resolvi pesquisar um pouco sobre isso na internet, e vi que a prática estava mais disseminada do que eu imaginava. Claro que não é recomendado se puder ser evitado, mas não chega a ser algo tão proibitivo também. O desempenho obviamente não é o mesmo, e nem é recomendável fazer grandes distâncias também. Mas pelo menos é melhor do que ficar parado, não é mesmo? Então lá pelo final de agosto acabei aderindo a essa prática, mas limitando meu treino a curtas distâncias.

Claro que conheço e vejo por aí gente correndo sem máscara, apesar da obrigatoriedade imposta pelas autoridades locais. Não quero fazer aqui nenhum juízo de valor das pessoas que correm sem máscara, muito menos questionar a necessidade do decreto ou a eficácia da medida no combate à disseminação do vírus. Existe material de sobra na internet a respeito deste assunto. Quero apenas deixar registrada a minha opinião acerca disso tudo. E a minha opinião é que enquanto existir a obrigatoriedade de uso de máscara, goste-se dela ou não, concorde-se com ela ou não, trata-se de uma exigência das autoridades e deve ser cumprida. Portanto só voltarei a correr sem máscara no dia que isso for permitido.

Enfim, os primeiros treinos de máscara me mostraram que correr desse modo não era tão ruim assim afinal. E em algumas semanas eu já estava até conseguindo pegar um ritmo de treino bacana. Mas ainda assim, nada de fixar metas, apenas correndo para manter a saúde mesmo.

Ao longo do ano fui tomando conhecimento também das corridas virtuais. Funcionam assim: você baixa o aplicativo da corrida no seu celular, e no dia marcado da corrida você habilita o GPS, abre o app e inicia a corrida. Pode ser em qualquer lugar, desde que você cumpra a distância estabelecida pelos organizadores. Dependendo do evento, existe kit com camisa e até medalha. 

Claro que uma corrida virtual não chega aos pés da corrida presencial. Não é possível substituir a beleza da maratona do Rio (a menos que você more lá), o charme da avenida Paulista na chegada da São Silvestre ou o calor humano da praia de Santos em uma corrida da Tribuna. Se for para correr perto de casa, então faço isso de graça mesmo. Desse modo não me interessei por participar de corridas virtuais em um primeiro momento.

Ainda assim, já no mês de dezembro tomei conhecimento de uma corrida virtual organizada pela Track&Field no último fim de semana antes do Natal. Como era fim de ano e eu não havia participado de nenhuma corrida, pensei em participar até para não passar em branco. E um motivador extra foi que a corrida tinha um caráter beneficente: parte do dinheiro da inscrição seria doado para instituições de caridade para o Natal. Sem falar que seria algo diferente, para ser feito uma vez e depois poder relatar a experiência. Desse modo, decidi por me inscrever na prova de 5k, visto que não estava correndo grandes distâncias com máscara. As modalidades de 10k e 21k também estavam disponíveis.

A janela para realização da corrida era entre 05:00 e 22:00 do dia da corrida. Não sei ao certo por qual motivo (certamente não era ansiedade de correr), acabei acordando e perdendo o sono por volta das 04:30. Como não houve horário de verão, o dia já até começava a clarear dada a proximidade do solstício. Decidi comer alguma coisa, me arrumar e sair para correr logo de manhã cedo mesmo.

Foi muito estranho sair de casa para correr uma prova, sem ter que me preocupar com o horário de saída, nem com o trânsito para chegar no local da largada, nem com guarda-volumes ou fila de banheiro químico. Nada de local de largada aglomerado. Nada de caminhão de som com alto-falante anunciando a contagem regressiva para o início da corrida. Ao invés disso, precisei simplesmente chegar à pé até o ponto que costumo começar meus treinos, abrir o aplicativo pelo celular e clicar no botão de iniciar a corrida. De fato, pelo horário a janela de realização da prova já estava aberto e o aplicativo me permitia fazê-lo. Ao clicar no botão uma vez ele me pedia a confirmação de que queria começar. Ao clicar pela segunda vez, ele começou uma contagem regressiva e em 3, 2, 1... estava valendo!

Fiz o mesmo percurso que já estava habituado a treinar. Ele possui cerca de 2.5km, de modo que fiz duas voltas. Comecei a minha corrida por volta das 05:15 da manhã. O tempo estava bom, tudo indicando que faria um lindo e quente dia de sol de verão. Mas como ainda era muito cedo, a temperatura estava relativamente baixa e o ar estava fresco. Ou seja, estava ideal para uma boa corrida!

E foi mesmo! Como se tratava de uma prova, logo vinha aquela vontade dar um gás a mais e fazer um bom tempo. Por mais que não seja muito recomendado fazer isso de máscara, aquele "instinto de corredor" me impulsionou a buscar fazer o trajeto no menor tempo possível. Dado o horário que corri, não encontrei uma alma viva na rua, de modo que poderia muito bem ter saído pra correr sem máscara. Seja como for, por respeito ao decreto e também por querer ter uma base justa de comparação entre a corrida e meus treinos normais, mantive a máscara no rosto durante todo o percurso.

Por sinal, não tenho muito o que escrever sobre o percurso dessa vez. Quem acompanha esse blog sabe que gosto de descrever as paisagens, os nomes das ruas, avenidas, praças, os monumentos que marcam os percursos das corridas que participo. E uma das coisas que mais gosto nessas corridas de rua é esse lance de correr em lugares diferentes. Já descartei participar de corrida porque o percurso era o mesmo de outras provas que já tinha realizado. Mas dessa vez o percurso era o mesmo "arroz com feijão" que eu já estava acostumado.

Ao final da minha segunda volta, nem precisei me preocupar com finalizar a corrida no aplicativo. Quando ele detectou que eu havia completado 5k, a corrida foi automaticamente encerrada. Curiosamente meu relógio alegava que ainda faltavam cerca de 100-200m para completar 5k, de modo que continuei correndo até completar a distância no meu relógio também. O tempo registrado pelo aplicativo foi de 26m52s e no meu relógio 27m29s. Um pouco estranho terminar a corrida sem cruzar um pórtico de chegada com um relógio em cima mostrando seu tempo bruto. Em geral, avistar o pórtico já é aquele incentivo para o "sprint final", mas não foi o caso. Também achei estranho finalizar a corrida sem pegar isotônico, fruta, além é claro da medalha. 

Por esse motivo, vou ter que finalizar o post sem a foto da medalha. Fica no entanto o registro da minha participação da corrida através da figura gerada pelo aplicativo com meu tempo oficial. Foi estranho, mas foi divertido. E quem em 2021 as provas presenciais possam retornar!